A disputa pelo governo da Bahia está completamente indefinida. É o que mostra a nova pesquisa AtlasIntel, contratada pelo grupo A TARDE, que aponta empate entre ACM Neto (União Brasil) e Jerônimo Rodrigues (PT), com uma diferença de apenas meio ponto percentual entre os dois.
Os números confirmam a linha ascendente do candidato petista, que tinha 32,6% na primeira pesquisa realizada em julho e, em menos de dois meses e após quatro rodadas de consulta, apresenta um crescimento superior a 23%, com 40,3 pontos percentuais.
ACM Neto, por sua vez, interrompeu a trajetória de queda verificada nas pesquisas anteriores, recuperou os 4,1 pontos perdidos desde julho e surge novamente na liderança com 40,8%, 1,1 ponto acima das intenções registradas na primeira pesquisa, um avanço de menos de 3%.
O equilíbrio não é tão grande na simulação de segundo turno. Com os votos de João Roma, que quase na sua totalidade não migram para Jerônimo, ACM aparece com 47,5% contra 42,9% de Jerônimo, uma vantagem 0,6 ponto acima da margem de erro de dois pontos percentuais para mais ou para menos.
Quando a simulação coloca João Roma no segundo turno, o candidato bolsonarista perde para ambos os líderes da pesquisa, com 21,3% diante de Jerônimo e 19,1% frente a ACM Neto, demonstrando um teto para as pretensões eleitorais do ex-ministro da Cidadania.
Segundo turno
O equilíbrio demonstrado nos números consolidados se reproduz também nos recortes demográficos, com algumas peculiaridades. Em Salvador, por exemplo, onde seria de se esperar uma performance destacada do ex-prefeito que governou a cidade por oito anos e elegeu o sucessor, ACM Neto e Jerônimo também empatam na margem de erro, com 44,2% do candidato do União Brasil contra 42% de Jerônimo.
O petista lidera na região de Ilhéus e Itabuna e, em Vitória da Conquista tem quase o dobro das intenções de voto de ACM Neto (54% x 27,9%). Outro dado verificado pela pesquisa é que quanto maior a escolaridade, melhor o desempenho de Jerônimo, que lidera entre os eleitores com ensino médio (43,1%) e superior (44,4%).
Desconhecimento
Para Andrei Roman, cientista político e executivo-chefe da AtlasIntel, a recuperação de ACM Neto deve ser vista como um movimento de migração e não de conquista de eleitorado, uma vez que Jerônimo pontuou agora melhor que na última aferição, em agosto.
“Basicamente, o ACM recuperou o eleitorado de Bolsonaro que, percebendo que Roma não está avançando, prefere mudar o voto para reduzir as chances de vitória de Jerônimo. Praticamente tudo que ACM ganhou nessa pesquisa veio de João Roma”, diz Roman.
Em contrapartida, o início da campanha no rádio e TV não produziu o efeito esperado pelos apoiadores de Jerônimo. O candidato do PT, que não era muito conhecido do eleitorado, não chegou a ampliar de forma significativa sua popularidade, mesmo percorrendo diversas cidades e se apresentando como o candidato do ex-presidente Lula.
Na primeira consulta realizada pelo AtlasIntel, em julho, 23,3% dos respondentes diziam conhecer bem Jerônimo. Hoje, são 28%, um crescimento de 4,7 pontos em quase dois meses, sendo um deles com exposição diária nas emissoras de rádio e TV.
Por outro lado, o petista era desconhecido de 43,7% dos eleitores e atualmente 39% ainda não sabem quem é o candidato apoiado por Lula, pelo governador Rui Costa e o senador Jaques Wagner. A variação idêntica em pontos percentuais confirma o avanço inexpressivo de Jerônimo sobre uma parcela considerável dos eleitores.
Para Andrei Roman, no entanto, essa variação pode esconder uma dinâmica do próprio eleitor, que já fez sua escolha mas prefere recorrer ao desconhecimento para justificar sua opção. “Quem não vota no Jerônimo alega não conhecê-lo e, mesmo o conhecendo cada vez mais, continua declarando que desconhece”, avalia o cientista político.
Senado
Se a disputa pelo governo está acirrada, os números da AtlasIntel mostram um cenário completamente diferente na corrida pelo Senado Federal. Otto Alencar (PSD) candidato à reeleição na chapa liderada por Jerônimo, nada de braçada com 50% das intenções de voto, mais de três vezes o percentual da segunda colocada, Raissa Soares (PL), candidata bolsonarista, que ostenta 14,6% da preferência dos eleitores.
Cacá Leão (PP), candidato de ACM Neto, aparece apenas com 11,9%, numa clara inversão do cenário de intenções de voto para governador, que mais uma vez reforça o peso de um nome conhecido, como o do senador Otto, que, além da longa trajetória política teve grande exposição na CPI da Covid-19.
Exposição que se traduz na liderança de Otto em todos os estratos verificados pela pesquisa. Otto lidera com folga em todas as faixas de idade, renda, escolaridade, gênero, religião e em todas as regiões pesquisadas.
Outro dado que chama a atenção é a penetração do senador no eleitorado dos presidenciáveis, superior ao do candidato Jerônimo Rodrigues. Dos eleitores que votam em Ciro Gomes, 51,9% votam em Otto, e 20,3% em Jerônimo.
O candidato do PSD vai melhor também no eleitorado de Lula, com 68,7% dos eleitores do ex-presidente, enquanto Jerônimo tem 61,5%. Essa performance, segundo Andrei Roman, permite dizer que a eleição para o Senado na Bahia já está resolvida.
Presença de lideranças bem avaliadas se torna diferencial
Numa eleição verticalizada e marcada pela polarização, a presença de lideranças reconhecidas e bem avaliadas pelo público se torna um diferencial capaz de definir o pleito. O ex-prefeito de Salvador, ACM Neto, que tem procurado evitar associações com presidenciáveis, aproveita a popularidade acumulada como gestor e traduzida em 58% de avaliação de imagem positiva.
O principal contraponto é o governador Rui Costa (PT) que, com seus 59% de aprovação e no exercício do mandato, tem sido um dos principais cabos eleitorais de Jerônimo, que conta ainda com Otto Alencar (49% de imagem positiva) e Jaques Wagner (37%), além de desfrutar, ele próprio de uma avaliação positiva de 41% do eleitorado.
Mas, como os números mostram, se não houver uma inversão de votos na reta final, o cenário tem poucas chances de se alterar. Para Andrei Roman, a chance de uma definição das eleições estaduais ainda no primeiro turno não está descartada, mas depende de uma migração forte de votos no período de menos de três semanas que nos separa da votação do dia 2 de outubro.
Final acirrado
“A corrida da Bahia tem todos os ingredientes para um final acirrado, de grande emoção. Do lado do Jerônimo, ainda existe um excelente potencial de converter eleitores do Lula que hoje ainda não o conhecem e, por conta disso, acabam optando por ACM”, avalia Andrei Roman.
Até por isso, ACM Neto tem evitado se associar a um ou outro presidenciável, embora tenha maior penetração no eleitorado bolsonarista. A pesquisa já demonstra, ainda que de forma tímida, a adesão de eleitores de João Roma a ACM Neto. Em contraponto, Jerônimo, até o momento, não consegue avançar no eleitorado do ex-prefeito de Salvador.
Quando analisadas as intenções de voto para governador e presidente, ACM Neto tem 32,7% dos votos de Lula e 48,6% dos eleitores de Bolsonaro. No mesmo cruzamento, Jerônimo tem 61,5% dos eleitores de Lula e 0,3% dos eleitores bolsonaristas.
A migração de Roma para ACM Neto ainda no primeiro turno pode representar um movimento de antipetismo, para evitar um segundo turno onde a disputa Lula x Bolsonaro ficaria mais acirrada. “Parecia que o ACM estava muito forte, ia ganhar no primeiro turno, não existia competição real. À medida que Jerônimo se fortalece, com a convergência das outras pesquisas ao que a Atlas já vinha detectando, existe uma tendência muito clara do eleitor de Roma de apoiar ACM”, avalia o cientista político.
E complementa: “O eleitor de Roma defende abertamente os valores propagados por Bolsonaro, enquanto a estratégia de ACM mantém a ambiguidade. Por isso ele não participa de debates, não se apresenta com clareza ao eleitor. Assumir posições tem um custo político”.
Lula lidera com mais do dobro dos votos
Se na disputa pelo governo estadual o equilíbrio e a indefinição dão a tônica, quando o assunto é o próximo presidente do Brasil, a Bahia já decidiu. O ex-presidente Lula (PT) lidera com mais do dobro dos votos do principal concorrente, o presidente Jair Bolsonaro (PL), que recuou três pontos em relação à última pesquisa AtlasIntel/A TARDE.
A liderança de Lula se mantém no mesmo patamar, com variações inferiores a 2%, sempre acima dos 60 pontos. O petista lidera entre homens (55,9%) e mulheres (70,4%), em todas as faixas de idade, renda, instrução, em todas as regiões pesquisadas e entre adeptos de todas as religiões.
Segmentos
“No contexto da Bahia, Lula está melhor em todos os segmentos, inclusive entre os evangélicos, A Bahia é um estado onde o petismo sempre foi forte”, contextualiza Andrei Roman, executivo-chefe da AtlasIntel e responsável pela pesquisa.
O único cenário em que Bolsonaro consegue alguma projeção a ponto de se aproximar de Lula é entre os que ganham mais de R$ 10 mil por mês. “Esse índice reproduz uma parcela de público consolidada em torno do Bolsonaro nessa faixa de renda em todo o Nordeste”, explica Andrei Roman.
Fora da disputa, os candidatos da chamada terceira via patinam. Simone Tebet saiu de 2 para 0,8 ponto percentual e Ciro oscilou de 5,1 para 5 pontos.
À medida em que a eleição se aproxima, o desempenho pífio da terceira via abre espaço para a adoção do voto útil, antecipando uma escolha que só ocorreria num eventual segundo turno.
Arrependidos
“Boa parte dos eleitores de esquerda querem apenas derrotar Bolsonaro”, acredita Andrei. E entre eles, encontram-se também alguns arrependidos.
A pesquisa mostra que 12,4% do eleitorado que votou em Bolsonaro em 2018 hoje declara voto em Lula, assim como a maior parte (57,9%) do eleitorado que votou em Ciro no primeiro turno da eleição passada.
Migração
“A migração de votos de Bolsonaro para Lula mostra a desaprovação de eleitores que se encantaram com o discurso de Bolsonaro e hoje desistiram de apoiá-lo. É um eleitor mais educado e com renda acima da média”, detalha Andrei.
A Tarde