segunda-feira, setembro 16, 2024

Não é modismo, é ação política

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Durante toda história do Brasil, milhares de mulheres negras tiveram sua aparência questionada quanto sua beleza, isso demonstra todo o racismo que está imbuído em nossa sociedade, e viver na pele de mulheres negras nunca foi uma tarefa confortável nesse país e é claro que isso ocorre pela herança escravocrata que perpetua até dias atuais.

Por muito tempo, a mulher negra brasileira foi estereotipada, objetificada, molestada e violentada por conta da sua imagem, “morena da cor do pecado”, associando a mulher negra a sensualidade exacerbada. Traços ancestrais sempre foram motivo de violência retórica por parte da sociedade como é o caso do termo racista “cabelo de Bombril”, comparando o cabelo crespo que é característica do povo africano a uma marca de esponja de aço.

Toda essa violência sempre foi tratada genericamente como algo apenas retórico, no entanto, a violência vivida e legitimada por um discurso de ódio e racista legitimados pelos meios de comunicação é representado pela ausência do povo negro em novelas por exemplo, sempre deslegitimou a presença dos negros e negras, negando representatividade a mais de 60% dos brasileiros e brasileiras.

Os programas de humor sempre fizeram uso do racismo em piadas, e as características das mulheres negras por muito tempo foram motivos de chacotas no mínimo violentas contra as mulheres negras, sempre as representando como feias e representar toda uma comunidade como feia é também apresentar como indesejada, portanto, não tem “passabilidade” social.

Na última década com o advento das tecnologias e o crescente acesso ao conhecimento para as mulheres negras advindo das cotas raciais, mulheres negras organizam uma verdadeira revolução sobre a discussão racial e denunciar a falta de representatividade que por consequência demonstra  o racismo instituído que causa a  negação de acesso a pessoas negra, discutindo como a “branquitude” usou e ainda usa as características físicas como simbologia para negar a legitimidade do povo negro ao acesso a plenitude dos seus direitos.

A primeira impressão pode causar a falsa ideia de que a presença de pessoas assumindo seus fios crespos é apenas uma questão de modismo, mas não se engane, o movimento que causou a volta do orgulho crespo veio para ficar, pois ele trousse discursões muito contundentes sobre de onde veio o ódio aos cabelos naturais e o porquê das mulheres negras terem sido as protagonistas desse movimento que revolucionou a indústria cosméticas na última década.

O comportamento da indústria cosméticas brasileira até a década passada nunca levou em consideração a diversidade étnico racial brasileira, todos os produtos lançados sempre buscou atender a um padrão branco, ou seja, produtos para cabelos lisos ou alisados, o que fez com que gerações de mulheres negras escondessem essa característica físicas por meio do alisamento dos cabelos, pois, ser crespa era ser feia, defeito a ser corrigido.

Atualmente, é comum mulheres negras adaptarem o uso do seu cabelo natural ou a utilização de penteados protetores como as tranças box braids, twist, e outros, demonstrando a crescente demanda de produtos destinados a esse público, bem como o debate mais qualificado quanto a beleza natural do povo negro.

Por Mara Cerqueira

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