Carlos Humberto na contramão!

A contracultura sempre foi área de atuação de Carlos Humberto, o popular Carlão. Mesmo quando as tendências levam a maioria para uma direção, ele está trazendo o contraditório no que diz respeito a sua vida de produtor cultural; numa época em que muitos se dizem influencers, ele certamente não tem essa pretensão, e busca dar significado aos processos culturais que acompanha. É a verdadeira tradução do termo contracultura. Desta vez, Carlão se destaca porque pretende finalmente ser o pioneiro em criar um tecido gastronômico para a Capital Baiana da Fé.

Mara – O que afinal tem de especial na Cozinha do Carlão?

Carlão – “A cozinha do Carlão surgiu por conta desse processo que está instalado no planeta e a gente que trabalha com cultura, o Canta Vale, essas atividades foram suspensas, aí eu tinha que ter outro eixo de atuação, daí qual foi? – a culinária -, aí começamos a trabalhar nesse quintal que hoje é a Cozinha do Carlão, que é um espaço de fomento a saberes e sabores gastronômicos da cidade de Bom Jesus e região”, explica.

Vale a pena ressaltar que no dia 16 de Julho foi laçado o edital para a segunda edição do festival gastronômico em âmbito regional.

“São oito cidades que estão participando do festival, cada uma mostrando seus saberes e sabores, fomentando as coisas regionais. A nossa cozinha tá aí levantando o prato e sedimentando a cozinha da cidade, que até então ela não existia. A terceira maior romaria do Brasil recebe uma gama de gente e ainda não tem gastronomia específica, então a gente tá trabalhando a formatação desse eixo gastronômico da cidade”, argumenta Carlão.

Mara – A resistência na Pandemia?

“Primeiro, começamos a pensar em fazer alguns pratos que já estavam contidos na realidade do local, esse local já foi um ponto gastronômico há três gerações passadas, que se chamava Faixa Azul e era comandado por Cirilo, um cozinheiro antigo da cidade, que atendeu aos anseios de uma geração, quando Lapa ainda era muito pequena, quando as festas terminavam vinham pessoas para cá comer as galinhas caipiras, as buchadas, enfim. Interligando com isso começamos a fazer as galinhas, como estamos embaixo das mangueiras, nasce a galinha caipira ao molho de manga Ciriliana, de uma brincadeira”, conta Carlão.

Ele lembra que a partir daí nasce uma demanda para a criação de um cardápio que já se encontra disponível em todas as redes sociais dele.

Sobre o diferencial da Cozinha, ele lembra que a ideia é ressignificar os pratos tradicionais, colocar história ali, é assim que a cultura se impõe, é assim que se constrói um roteiro gastronômico, algo que seja específico da cidade, e que todos os lugares possam criar seus produtos utilizando a mesma lógica.

Mara – O que sonha o Carlão sobre o futuro da Cozinha.

“Que esse festival se amplie para outras situações, para que o tecido gastronômico da cidade seja qualificado, inclusive estamos tendo apoio dos filhos da cidade, foi um garimpo para fazer o comércio entender que se você apoia a gastronomia local, está apoiando a própria economia da cidade, comida é uma das maiores fontes de economia do mundo, não tem lugar sem comida, para isso é preciso um suporte”, garante.

Mara – Como a música se junta à comida?

“E um casamento perfeito, porque você atende dois sentidos que são trabalhados, que quando são estimulados e o ser humano fica muito feliz, é uma coisa orgástica (risos).”

Ele se lembra de outra finalidade da cozinha que é ser um laboratório, caso alguém queira fazer um evento gastronômico ou só mesmo um prato, a cozinha está aberta para a comunidade.

O festival gastronômico da Cozinha do Calão acontecerá de 04 de setembro a 31 de outubro na cidade de Bom Jesus da Lapa e atenderá 8 cidades que virão mostrar sua gastronomia.

Se Carlão é um achado em meio à banalização da cultura? Saiba que ninguém está sozinho, a Cozinha tem seu público fiel todos os finais de semana, gente que se interessa em degustar pratos verdadeiramente elaborados ao som de um repertório musical ímpar e um ambiente verdadeiramente acolhedor.

Por Mara Cerqueira