Conta o Monsenhor Turíbio Vilanova Segura, capelão e administrador do Santuário do Senhor Bom Jesus, de 1930 a 1953, que a primeira grande romaria foi a dos Pretos, realizada no mês de junho de 1888, um mês depois da concessão de liberdade aos escravos pela Lei Áurea da princesa regente Dona Isabel.
A informação está na página 122 do livro “Resenha Histórica”, a primeira grande obra resgatando a saga de Francisco de Mendonça Mar e contando o que se manteve vivo na oralidade dos romeiros e moradores de Bom Jesus da Lapa, assim como nos documentos que sobraram depois do incêndio do Santuário em maio de 1903.
Não fica difícil entender por que a romaria não teve prosseguimento no final do século XIX, quando a maioria da população dominante não se conformava com a libertação dos pretos, estando latente a segregação racial que ainda nos dias de hoje é assunto das manchetes de jornais, devido demonstração cabal de preconceito racial em todo o planeta, bem como violência que vitimiza membros da classe social mais perseguida no ocidente.
Sobre a romaria dos pretos, Monsenhor Turíbio escreveu:
“Uma imensa multidão de negros, vinda de todo o sertão, reuniu-se em Bom Jesus da Lapa para dar graças ao Bom Jesus pelo benefício da alforria, demorando 8 dias, cantando benditos religiosos, rezando, dando vivas ao gabinete de João Alfredo, tocando maraxás, tambores, pandeiros, cabaças com milho, etc…”
A seguinte informação permaneceu no imaginário popular. Conta-se que os ex-escravos fizeram doação de milhares de moedas de cobre, a fim de o administrador do santuário à época, fundisse um sino para celebrar a ocasião.
A verdade é que uma semana de celebração pelo acontecimento, deve ter se repetido por algumas décadas, entretanto, o tempo tratou de sufocar a romaria dos pretos, de forma que só quem viveu em Bom Jesus da Lapa no final do século IXI, poderia relatar tais fatos nos dias atuais.