sexta-feira, novembro 22, 2024

De vingança de Trump ao grande reset: como as redes bolsonaristas explicaram “apagão do zap”

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A pane nos servidores do WhatsApp, Facebook e Instagram levou a uma proliferação de teorias conspiratórias nas redes bolsonaristas. Concentrados nas listas e grupos do Telegram, os seguidores do presidente oscilaram entre o pânico de ficar sem um canal de comunicação e as “explicações” mais mirabolantes para o apagão.

Desde uma ação orquestrada da China até uma vingança pessoal do ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump contra Mark Zuckerberg, passando por uma estratégia de dominação comandada pela Pfizer e a AstraZeneca, teve de tudo. Houve até quem cogitasse estar começando o Grande Reset, teoria conspiratória que prevê uma “reinicialização” do mundo por uma autocracia comunista.

O que prevaleceu, contudo, foi o temor de que a máquina de propaganda do governo Bolsonaro nesses aplicativos estivesse sob ataque deliberado. Muitos viram uma “prévia” de uma eventual censura das redes para as eleições de 2022. Outros suspeitaram que o objetivo seria provocar uma queda expressiva de seguidores de Bolsonaro após o apagão.

“O motivo dos aplicativos não estarem funcionando é justamente um teste que vêm fazendo para as eleições do ano que vem. Portanto, já era de se esperar que a esquerda tentará prejudicar milhões de brasileiros que usam as redes sociais. A esquerda sabe que a cada dia vem crescendo a popularidade do presidente Jair Bolsonaro. Precisamos ficar atentos e juntos iremos derrotar essa maldita esquerda podre e eliminar a sua existência”, escreveu um militante.

Em um grupo de 35 mil membros no Telegram, gerenciado por um suposto coronel da Aeronáutica, o clima era de pavor. “Coronel, tem algo muito importante acontecendo com as redes sociais. Não consigo entrar no chat e nem formar um grupo no Telegram. Face, insta e zap estão fora do ar. Use a influência do senhor para maiores informações”, implorou um dos integrantes do grupo ao moderador.

Outra apreensão comum era a de que o Telegram também saísse do ar. Ao longo da tarde, membros do mesmo grupo faziam uma espécie de “censo” do apagão, relatando quais cidades reportavam o problema – o que era inútil, já que a falha foi global.

Também houve apelos para que os apoiadores do governo migrassem para aplicativos como o Gettr, criado por um ex-assessor de Donald Trump para direitistas, e o Signal.

No auge da agitação, um dos bolsonaristas ainda avisou: “parece que derrubaram a página do Bolsonaro no Facebook”. O perfil continua no ar.

Quem não estava em pânico aproveitou para ironizar o Tribunal Superior Eleitoral e o Supremo Tribunal Federal. “Zap Zap caiu, Instagram caiu, Foicebook (sic) caiu. Mas só a urna eletrônica é 100% confiável”, escreveu um bolsonarista.

“Nada disso estaria acontecendo se Mark Zuckerberg conversasse com o Barroso e colocasse em suas empresas a SEGURANÇA do TSE”, escreveu o blogueiro Allan dos Santos em uma mensagem replicada em vários grupos no Telegram. “O STF já deu 24 horas pro Bolsonaro explicar o motivo da queda das redes sociais?”, debochou outro apoiador de Jair Bolsonaro.

No quesito teorias conspiratórias, teve um pouco de tudo. Numa tese reverberada com requintes hollywoodianos, Pequim era o grande culpado. “É a China mostrando que está no controle do mundo”, arriscou um bolsonarista. “A China já está agindo. Período difícil se aproxima”, respondeu outro.

Para outros, a quem estava por trás do bug nas redes sociais eram Pfizer e a AstraZeneca. “Seria esse o motivo das grandes Big Techs (WhatsApp, Facebook, Instagram) caírem??? Clive Palmer (um político australiano) expôs o papel corrupto das grandes empresas farmacêuticas Pfizer e AstraZeneca por trás do frenético impulso de Gladys Berejiklian (outra política australiana) para vacinas. A mídia e os principais partidos estão em pânico, tentando encobrir o crescente escândalo”.

A Organização Mundial de Saúde também teve sua cota de “responsabilidade”, segundo alguns bolsonaristas. “Ao mesmo tempo em que Facebook, Zap e Instagram caem, o diretor-geral da OMS declara a existência de um novo vírus mundial, mais mortal que a peste chinesa”, disse um deles, apesar de Tedros Adhanom não ter feito qualquer alerta nesse sentido.

Para além do peculiar interesse de bolsonaristas pela política da Austrália, a tônica conspiracionista manteve um padrão das redes que dão suporte ao presidente: a obsessão em ver sempre um grande plano orquestrado por trás dos eventos mundiais, pronto a se voltar contra Bolsonaro.

Nessa linha, uma teoria de bastante sucesso entre os seguidores do presidente, a do “grande reset”, também se espalhou na tarde e no início da noite de segunda-feira. Muito difundida na extrema-direita, a teoria do “grande reset” alerta para um suposto expurgo da internet como conhecemos para restabelecer a ordem “globalista” e extinguir o papel moeda.

“Tudo que está acontecendo é apenas um “aquecimento” para o evento principal. Ah, você quer saber qual é o evento principal? Leia sobre Cyber Polygon, Neo. Estejam alertas”, publicou uma lista chamada “Gays com Bolsonaro”.  O Cyber Polygon é um exercício organizado pelo Fórum Econômico Mundial para simular grandes ataques cibernéticos e encontrar vulnerabilidades na rede mundial de internet.

Em meio a todas essas teorias, uma bem popular foi a que concluía que a falha das empresas de Mark Zuckerberg era uma vingança de Trump, banido dessas mesmas redes sociais após incitar apoiadores a invadirem o Capitólio americano em janeiro e disseminar acusações falsas sobre fraudes eleitorais. Ninguém explicou, contudo, como o ex-presidente americano teria sido capaz de provocar as anomalias das redes sociais, que acumularam prejuízos bilionários às empresas.

Por Malu Gaspar – O Globo

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