Em setembro do ano passado, a 34º Bienal de São Paulo homenageou Thiago de Mello, inspirada por verso do poema Madrugada Camponesa
O poeta amazonense Thiago de Mello morreu aos 95 anos, nesta sexta-feira (14/1), em Manaus. A causa da morte ainda não foi informada.
Nascido em Barreirinha , no interior do Amazonas, Thiago de Mello é um dos poetas mais conhecidos da região e possui influência tanto nacionalmente quanto de forma internacional, com obras traduzidas em mais de trinta idiomas.
Em setembro do ano passado, a 34ª Bienal de São Paulo homenageou Thiago de Mello. O verso que inspirou a bienal, “Faz escuro mas eu canto”, é parte do poema Madrugada Camponesa.
Aprendizagem no vento
O vendaval findou.
Agora é só o vento
soprando a sua ferocidade
mais fria do que a pele
enrijecida e azulada
dos operários fuzilados.
O vendaval findou.
Agora é só o vento cotidiano,
implacavelmente morno, hálito podre.
É com ele que se tem de aprender
a lição do revés, vida vivida.
Dos tantos que saíram,
poucos, muito poucos, se reencontrarão
um dia, tomara, naquilo que foram
ou quenão puderam ser.
Por enquanto, a cordilheira transposta,
o que se alteia
é o desvario da boca,
é cada vez mais o muro
entre a boca e a mão.
Aos que sonhavam mesmo, vendo o claro,
e que puderam permanecer
no coração ardente da sombra,
cabe o labor maior da aprendizagem.
É aprender com tudo o que foi feito
e também com tudo que deixou de ser feito,
como rasgar o caminho da esperança
que lateja, que lateja,
na frágua da paciência operária.
O vendaval findou. Telhados ocos
não poderão servir de abrigo a pássaros.