Trancados em um hotel em Kiev, jogadores brasileiros que atuam em clubes ucranianos gravaram vídeo na madrugada desta quinta-feira (horário de Brasília). Eles pedem o apoio do governo Bolsonaro e afirmam que não podem deixar o país após o início da invasão russa.
“Devido à falta de combustível, fronteira fechada, espaço aéreo fechado, a gente não pode sair. A gente pede muito apoio ao governo do Brasil, que possa nos ajudar”, afirma o zagueiro Marlon, do Shakhtar Donetsk, equipe que tem 12 atletas brasileiros.
No vídeo gravado e divulgado pelos atletas, a mulher de um deles, não identificada, diz não saberem se haverá comida.
O atacante Junior Moraes, da mesma equipe, naturalizado ucraniano e que atua pela seleção local, descreveu a situação como grave e que os atletas esperam uma solução para sair.
Até esta quarta-feira (23), a orientação dada pelos clubes era para os estrangeiros evitarem se manifestar sobre a tensão com a Rússia. Os dirigentes afirmavam aos jogadores que a situação estava controlada e teria solução pacífica.
O Shakhtar se transferiu para Kiev em 2014, quando houve intervenção militar russa na região ucraniana da Crimeia.
São 31 brasileiros contratados por times da primeira divisão da Ucrânia. Até a semana passada, a maioria deles estava na Turquia, em pré-temporada antes do reinício do campeonato, que aconteceria nesta sexta-feira (25). Após a invasão, o torneio foi suspenso.
Os jogadores que estão no Zorya Luhansk também pediram ajuda do governo e da embaixada brasileira na Ucrânia porque estão no escuro e afirmam não saberem o que fazer. O time, assim como o Shakhtar Donetsk, se mudou de cidade após o conflito na Crimeia e atualmente joga em Zaporizhzhya.
Em vídeo, Guilherme Smith, Cristian e Juninho dizem passar situação difícil e que não recebem qualquer notícia. O clube teria pedido a eles para ficarem tranquilos.
“Há uma apreensão pela guerra e de que maneira vai afetar a população. Estou aguardando orientações, estou em contato direto com meus representantes e familiares”, disse Edson, volante do Rukh Lviv.
Ele é um dos jogadores que estão afastados de Kiev, mas diz estar consciente de que “deixar o país pode ser uma opção.”
“Agora estou em segurança, amparado, mas não tenho certeza do que pode acontecer nas próximas horas”, completou. O time estuda levá-lo, assim como a outros estrangeiros, para a Polônia.
“Já sabia que havia problema, mas em nenhum momento passou pela minha cabeça a possibilidade de algo mais sério”, afirma o meia-atacante Talles, também do Rukh Lviv, mas dizendo já pressentir o pior quando viu governos estrangeiros retirando seus diplomatas das embaixadas.
Em nota, a embaixada brasileira na Ucrânia recomendou, onde seja possível, que os brasileiros deixem a Ucrânia. Aos que não puderem e estiverem ao leste do país, o pedido é que se desloquem para Kiev e entrem em contato com a embaixada. Os moradores da capital devem ficar em casa por causa dos grandes engarrafamentos nas vias de saída da cidade.
A embaixada da Ucrânia no Brasil cobrou nesta quinta-feira (24) do governo do presidente Jair Bolsonaro (PL) que condene a invasão da Rússia.
“Nós pedimos, esperamos que o governo brasileiro pronuncie-se e que condene essa agressão russa”, disse a jornalistas o chefe da embaixada, o diplomata Anatolii Tkach.
Depois, em outro momento, foi ainda mais enfático: “Primeiro, o que precisamos é de um sinal forte de condenação”.
A Ucrânia é uma espécie de eldorado para os jogadores nacionais nos últimos 15 anos. Os clubes são reconhecidos por pagar salários excelentes, muito maiores do que a média no Brasil, e em dia. Também podem servir como porta de entrada para ligas mais relevantes no continente. Foi o que aconteceu, por exemplo, com Fernandinho (Manchester City) e Fred (Manchester United).
Alex Sabino/Folhapress