Todos os anos é a mesma coisa nas redes sociais quando pululam cards em homenagem às mulheres, geralmente ilustrados com flores e fotos de mulheres louras, brancas, jovens e lindas, postagens que pouca gente lê mas poluem a memória dos celulares.
Parece que as personalidades políticas – a maioria que publica os cards – não conhecem o mundo real.
Será que vivem em um mundo de fantasia e não sabem que as mulheres são jovens, velhas, adolescentes, negras, pobres, feias, prostitutas, trabalhadoras, catadoras de latinhas, presidiárias, donas de casa, abandonadas?..
E justamente às vésperas do Dia Internacional da Mulher, chega um misógino imbecil abalando o mundo com uma declaração nojenta sobre as mulheres da Ucrânia.
Dói saber que tipos como esse tal “Mamãe Falei” ganharam poder de fala e ação na segunda metade da última década.
E me vêm na lembrança todas as notícias de crimes cometidos contra mulheres, por figuras públicas, os quais não vale à pena serem mencionados aqui.
Entretanto, é bom ressaltar que a mulher mais massacrada por misóginos nas redes sociais nos dias de hoje, depois de sua morte brutal, é a Marielle Franco, que não tem sossego onde quer que esteja, simplesmente porque se empoderou e foi exemplo para outras mulheres.
Ninguém se reporta ao exemplo de mulheres como Maria Madalena, Joana Darc, Joana Angélica, Simone de Bouvoir, Frida Kahlo, Carolina Maria de Jesus, Mãe Menininha do Gantois ou Dilma Roussef.
Para essas mulheres exemplares o mundo não era nem é apenas cor de rosa, e sim um mundo que elas continuam desejando, onde todas as mulheres possam determinar as cores que as representem.
É bom saber que elas querem apenas um lugar onde possam de verdade gozar a liberdade, aquilo que lhes é negado quase o tempo todo.
Essa opressão que sofrem o ano inteiro, intuitivamente é representada pela cor rosa e pelas rosas e seus espinhos no Dia Internacional da Mulher, uma vez que essas homenagens clichê, só têm um significado, ou seja, representam aquele momento em que elas podem gozar de alguma suposta liberdade com a permissão de seus algozes, quer sejam companheiros, patrões, irmãos, pais, avós, maridos ou amantes.
Hoje elas ganharam algum presente, homenagens, flores, café da manhã na cama, mas, e amanhã?
Amanhã elas vão voltar a ser mulheres pilotando fogão, “pianistas”, com o umbigo pregado na pia, megeras, porque muitos homens detestam a organização, a disciplina, e quando elas estão no comando as taxam de qualquer adjetivo para desqualificá-las.
E vão voltar a sofrer estupros psicológicos, reais, perseguição, assédio de todos os tipos para simplesmente se submeterem àqueles que se julgam superiores.
Por Emanoel Virgino