sábado, novembro 23, 2024

Silva e Luna deixa Petrobras dizendo-se traído por Bolsonaro

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No dia 7 de abril de 2021, o presidente Jair Bolsonaro (PL) viajou a Foz do Iguaçu para prestigiar a solenidade de despedida do general Joaquim Silva e Luna do comando da Itaipu. Convocado pelo presidente no dia 19 de fevereiro para a “missão” de presidir a Petrobras, o general foi aplaudido de pé após discurso em que descreveu sua própria gestão como um exemplo de austeridade fiscal.

Menos de um ano depois, Silva e Luna é demitido da presidência da Petrobras sem sequer ter sido informado do avanço de negociações que antecederam o anúncio de seu sucessor, Adriano Pires. O general, dizem aliados, deixa o cargo mal falando com Bolsonaro, por quem se sente desrespeitado.

O militar se queixa de traição. Segundo interlocutores, o general —que meses antes mantinha contato direto com o presidente— foi informado apenas no dia da demissão que o ministro das Minas e Energia, Bento Albuquerque, havia se reunido diversas vezes com seu sucessor, inclusive no último domingo, para discutir sua exoneração.

Em uma reunião descrita como fria, Bento Albuquerque informou Silva e Luna sobre sua demissão, relatando a série de encontros que mantivera com o novo presidente da Petrobras. A audiência em que Silva e Luna foi informado de sua exoneração aconteceu apenas três horas antes de a decisão de Bolsonaro ser publicamente anunciada.

A relação entre Bolsonaro e o general vinha se desgastando desde janeiro, com o aumento sucessivo do preço dos combustíveis. A Folha apurou que Silva e Luna ficou particularmente magoado em fevereiro, quando Bolsonaro cobrou que o general fizesse jus ao salário, apresentando solução para o preço das gasolina.

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“O diretor ganha R$ 110 mil por mês. O presidente mais de R$ 200 mil por mês e, no final do ano, ainda tem alguns salários de bonificação. Os caras têm que trabalhar! Têm que apresentar a solução e mostrar o que está acontecendo. ‘Ah, a gasolina está alta.’ Cai no meu colo. Eu não tenho como interferir na Petrobras, mas cai no meu colo”, disse Bolsonaro.

O afastamento definitivo se concretizou em março. No dia 8, o general foi chamado a Brasília para discutir a alta de combustível. O então presidente da Petrobras se reuniu com Bento Albuquerque antes da reunião do alto escalão do governo, na Casa Civil, para debater o preço da gasolina.

Na audiência, com a presença dos ministros Paulo Guedes (Economia) e Ciro Nogueira (Casa Civil), o general alertou para o risco de desabastecimento caso os preços não fossem reajustados.

Houve um pedido para que Silva e Luna contivesse o reajuste por dois dias, até aprovação de um projeto de lei destinado ao enfrentamento da crise. Na quinta-feira, 10 de março, o projeto não tinha sido aprovado e a Petrobras anunciou um reajuste que passaria a vigorar na sexta.

No mesmo dia, Bolsonaro reclamou de o problema cair em seu colo. Pressionada pelo avanço das cotações do petróleo com a guerra entre Rússia e Ucrânia, a Petrobras anunciou reajustes nos preços da gasolina, do diesel e do gás de cozinha.

No caso da gasolina, o reajuste para as distribuidoras foi de 18,8%. Em declarações, Bolsonaro também acusava a Petrobras de insensibilidade. Em conversas, o general se mostrava irritado, afirmava que não brigaria para se manter no cargo. Mas também não pediria demissão.

Sua saída é mais uma demonstração de fortalecimento de Bento Albuquerque na Esplanada. Em fevereiro do ano passado, ao ser convidado para Petrobras, Silva e Luna condicionou sua saída à possibilidade de escolher seu sucessor em Itaipu.

Em janeiro, Bolsonaro nomeou um indicado de Bento Albuquerque para o comando da binacional. Com a saída do general, o ministro das Minas e Energia indicou militares da Marinha para o conselho da estatal.

 

Catia Seabra e Nicola Pamplona/Folhapress

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