sábado, outubro 19, 2024

Cerca de 55% das empreendedoras brasileiras são mães

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Abrir um negócio próprio representa, para maioria das mulheres com filhos, ter mais flexibilidade

Se empreender é visto como um passo para conquistar a independência financeira, para muitas mães é, também, encontrar propósito profissional e mais flexibilidade para estar com a família. Mas em um cenário de desequilíbrio das funções de casa entre mulheres e homens, ser uma empreendedora mãe não é exatamente simples. Então neste Dia das Mães, olhamos para quais são as motivações e os desafios que elas enfrentam.

No Brasil, 55% das empreendedoras têm filhos, é o que mostra dados do Instituto Rede Mulher Empreendedora (IRME), que buscou traçar os perfis das mulheres que empreendem. Os dados também identificaram que a maternidade é um impulsionador para essas mulheres se dedicarem a iniciar o próprio negócio. Deste total de mães, três em cada 4 abriram suas empresas após a maternidade.

“Os ambientes corporativos ainda não são acolhedores para as mulheres, então elas são empurradas ao empreendedorismo, especialmente as mães com filhos pequenos”, contextualiza Ana Fontes, fundadora do IRME. Ela explica o porquê da busca por flexibilidade ser um destaque entre as motivações das mães.

“A gente chama de economia do cuidado, que é o cuidado com os filhos, com a família, com a casa, com os idosos, e que ainda é feita majoritariamente por mulheres. Uma das dificuldades é justamente a falta de equilíbrio entre essas atividades, ou seja, para a maioria das mulheres isso não é dividido, ela é a responsável”, ressalta a fundadora.

A pesquisa do IRME mostra esse desequilíbrio na própria razão de empreender. Para as mulheres, o maior objetivo é a flexibilidade e ter tempo para a família. Já para os homens, os principais motivos elencados são o de ter uma renda extra e desse trabalho ser uma vocação natural.

As motivações

“Mas elas buscam fazer alguma coisa que esteja ligada ao propósito delas, ao que elas acreditam. Então o empreendedorismo é um caminho para a flexibilidade, mas também para se manterem ativas e construírem alguma coisa que faça sentido”, indica Ana.

Mãe da Maria Eduarda e da Maria Clara, a médica Juliana Cabral resolveu empreender no ano passado com objetivo de sanar sua própria dificuldade em encontrar roupas infantis atemporais em Salvador. Junto com duas outras mães, Karina Rossetto e Fernanda D’el-Rei, as sócias abriram a loja virtual Bilu Boutique (@biluboutiquessa).

“Nós somos três mães e pensávamos em fazer algo para crianças. Aqui em Salvador a gente acha roupas ou muito estampadas, ou parecendo mini adultos, ou entupidas de babado, são roupas com muita dificuldade de vestir e de tirar. A gente quis buscar roupas que fossem confortáveis e que a criança pudesse brincar, sentar no chão e ter uma mobilidade adequada”, comenta Juliana. Ela explica que empreender já como mãe facilitou na hora de entender qual seria o foco do negócio.

Mas a sócia também percebe as dificuldades de ser mãe e dona de uma empresa própria: “Eu agreguei mais uma função e as mães além de terem que trabalhar e pensar em todas as responsabilidades do dia a dia, elas têm que organizar a rotina dos filhos. Isso porque muitas vezes os pais jogam essa função para as mães, do que o filho vai comer, do que vai vestir, o que vai fazer”, diz a Juliana.

“Apesar deles estarem preocupados, não é o mesmo grau de envolvimento nessa questão de implementar a rotina. A mãe vive aquilo com muito mais obrigação do que o marido. Então é complicado conciliar o tempo de ser mãe, estar presente para os filhos, trabalhar, empreender e ter que dar conta de tudo”, afirma a empresária.

Encontrar esse equilíbrio de tempo então é fundamental para não deixar de investir no próprio negócio. Para Juliana, o objetivo não deve ser manter a mesma rotina de antes da maternidade porque “você muda a forma de viver. Temos que ter certeza da nossa função enquanto empreendedoras, para ocupar a cabeça e para nos sentirmos bem, não vou ser menos mãe por causa disso”, defende.

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Sair da CLT

Carina Guedes é farmacêutica e está se planejando para migrar da CLT para o negócio próprio. Ela conta que essa vontade de empreender surgiu após o nascimento de sua filha, Catarina, quando começou a sentir necessidade de estar mais próxima dela. “O tempo que eu tenho para ficar com ela é muito pouco comparado ao que ela queria e ao que eu gostaria também, e aí surgiu essa ideia de começar a empreender”, explica.

“Comecei a usar o Instagram para divulgar o meu trabalho de atendimento e comecei a ensinar outros profissionais a fazer indicação farmacêutica, acompanhamento e atendimentos. Pretendo abrir no final deste ano a minha farmácia e um consultório farmacêutico dentro”, conta Carina.

Ela acredita que a maternidade foi um impulso para criar essa coragem na vida profissional: “Eu tinha medo de arriscar, com um trabalho fixo você tem certeza do quanto vai receber, então dá uma certa segurança. Porém com a chegada da minha filha eu percebi que nem sempre isso é segurança, então ela me deu mais ânimo”.

Para Carina, ter em mente os próprios propósitos é fundamental para continuar motivada: “Sempre gostei de ter autonomia financeira, isso me ajudou e eu sou uma pessoa que gosta muito de me dedicar ao trabalho. É importante lembrar que nossos filhos também têm outras atividades, como a escola, então é conciliar os horários para quando estivermos juntos ser um momento só nosso”.

Com o objetivo de ajudar essas mulheres, a psicóloga organizacional de trabalho, Luana Lídio, criou a Escola de Empreendedorismo Digital para Mães. “Em 2020 eu criei a escola porque foi no pico da pandemia, quando as mães começaram a perder emprego em grande massa e sem ter uma recolocação no mercado de trabalho, sendo demitidas após a maternidade. E aí ampliamos o foco para ensinar essas mães a empreenderem e criarem negócios digitais para que pudessem viver disso”, comenta.

Dentre os pontos de atenção que ela destaca estão o de traçar um planejamento de trabalho, além de uma estratégia de gestão de tempo “para administrar a maternidade e a empresa. Contar também com o apoio da família é muito importante, principalmente o emocional. Precisa mostrar que seu negócio é sério, não é um bico ou um freelancer, tem que ver como uma empresa”, orienta Luana.

É fundamental também entender como as pessoas são beneficiadas pelo seu negócio. A psicóloga explica: “Seu trabalho também é para transformar a vida de alguém, empreender é levar soluções. Quantas pessoas são beneficiadas pelo seu negócio? É pensar no porquê você faz e para quem”.

A fundadora do IRME, Ana Fontes, destaca também a importância dessas mães entrarem no mercado de trabalho sendo donas de suas próprias empresas: “Quando elas empreendem, elas investem os recursos do negócio em melhorar as condições de educação dos filhos, melhorar o bem-estar da família, melhorar as condições do entorno”, conta.

Dados do IRME apontaram que o negócio é a principal renda familiar para 38% das mulheres. Além disso, quando as mães empreendem, a fundadora do instituto sinaliza que há mudanças importantes no próprio mercado: “Quando elas têm funcionários e colaboradores, elas contratam outras mulheres, criando um círculo de prosperidade”, conta Ana.

A Tarde

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