Pesquisa deve terminar em 31 de outubro e prevê, ainda, a coleta de informações individuais dos bairros
Com dois anos de atraso por causa da pandemia do Sars-Cov-19, a pesquisa para Censo Demográfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2022 começou e tem novidades: a realização do mapeamento de pessoas com diagnóstico autista e de comunidades quilombolas, além da divulgação de informações individuais dos bairros de Salvador. Os 14,5 mil recenseadores contratados na Bahia – são 230 mil ao todo no Brasil –, foram às ruas, ontem, iniciando essa jornada que deve terminar em 31 de outubro.
Entrar no mapeamento do IBGE é algo discutido a muito tempo dentro das comunidades quilombolas, afirma o coordenador do Conselho Estadual de Associações Quilombolas (Ceaq), Florisvaldo Rodrigues da Silva. “Sempre imaginamos o tamanho do avanço que seria entrar no Censo e agora isso está virando realidade. Isso é mais um fruto de nossa luta e esse reconhecimento vai nos permitir acessar o que nos é de direito, pois são dados socioeconômicos que vão apresentar a verdade sobre a existência dos quilombolas brasileiros. Claro que temos uma preocupação quando as comunidades de difícil acesso, mas isso foi muito bem discutido com o pessoal do IBGE e, com isso, acreditamos que tudo funcionará bem”.
Para a advogada, mãe de um autista e co-fundadora do grupo Autimais (@autimais), Fabiani Borges, as pessoas com diagnóstico autista entrarem no Censo Demográfico 2022 é um divisor de águas. “Hoje não temos nenhum dado estatístico concreto no Brasil de pessoas no espectro autista, e usamos dados dos EUA, Europa e Japão, mas não temos os nossos. Entrar no Censo será um passo muito importante para a implantação e reforço das políticas públicas direcionadas aos autistas. Acredito que essa pesquisa irá acender uma luz gigantesca sobre estruturas e ações que podem ser criadas. Por isso, por favor, recebam os recenseadores em suas casas e os respondam, só assim teremos a real dimensão dessa comunidade e do que deve ser cobrado dos governantes”, pede a advogada.
Os recenseadores dos Censo 2022 na Bahia irão percorrer cerca de 5 milhões de domicílios e falar com 15 milhões de baianos. Dois tipos de questionário estão sendo aplicados: um básico, com 26 perguntas e outro de amostra, com 77 perguntas, que será respondido por cerca de 10% dos domicílios. Porém, vale lembrar que não será uma opção da pessoa ou do recenseador escolher qual deles, o próprio sistema do IBGE irá sinalizar qual questionário a pessoa deve responder. As perguntas poderão ser respondidas presencialmente, por telefone ou através da internet. Mas atenção: mesmo optando por uma das duas últimas opções, é necessário receber os recenseadores em casa para que eles expliquem como proceder.
Divulgação
Os primeiros resultados do Censo Demográfico 2022 devem ser divulgados em 31 de dezembro deste ano e o superintendente da unidade estadual do IBGE na Bahia, André Urpia, explicou na coletiva do lançamento do Censo 2022, que não haverá nenhuma grande mudança nesta edição em razão da pandemia, mas a pesquisa trará muita informação para subsidiar esse momento de retomada, planejamento e, principalmente, de governantes sendo eleitos e reeleitos.
“Vai gerar uma possibilidade de conseguirmos ter um retrato atual dessa virada do país. Com os dados permitindo, por exemplo, que empreendedores descubram seu mercado e que as lideranças de bairros tenham em mãos informações sobre seus bairros. Concluímos agora o levantamento do entorno, próximo às casas, verificando árvores, palafitas, pontos de ônibus, acessibilidade das vias e mais uma gama de informações que entregamos para que as pessoas possam tanto cobrar a iniciativa privada, quanto o setor público. E eles, por sua vez, podem se planejar para realizar bem os seus serviços”, explica o superintendente.
E ter acesso a essas informações sobre o próprio bairro, cidade, estado e país dá respaldo para que a população recorra e exija do poder público melhorias, afirma a desenhista arquitetônica aposentada Maria Deusnethe Almeida, que participou de todas as edições do Censo que foram realizadas em seus 62 anos de vida. “Faço campanha com meus vizinhos, amigos e famílias, falando sobre a importância do Censo e incentivando que eles respondam. As perguntas não são invasivas e, na atual situação do país, vão nos ajudar muito a redesenhar o Brasil pós-pandemia”, afirma a aposentada.