Por mudanças na lei eleitoral, partido concentra esforços em estados onde tem mais adesão, a exemplo da Bahia
O MDB, uma das legendas mais tradicionais da política brasileira, deixará, pela primeira vez desde a redemocratização, de ter candidatos a deputado federal em todos os estados, algo inédito em sua história.
Quando ainda era PMDB, a sigla chegou a ter deputados federais em todos os estados do país na década de 1990, quando Ulysses Guimarães foi presidente da Câmara, configuração que também se repetiu nas eleições de 2010 e 2014.
Neste ano, apesar de ter um número de candidatos maior do que em 2018, o MDB decidiu concentrar esforços em regiões onde tem mais adesão, como São Paulo, Minas Gerais e Bahia, onde estão 32% (153) dos 482 candidatos do partido neste ano.
Fim de uma era
Um dos principais motivos é o fim das coligações proporcionais, que fez com que as legendas reduzissem a abrangência nacional na disputa e o número de estados onde vão apostar em candidatos para a Câmara.
O pré-desenho de candidatos de cada partido entregue ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) até esta semana mostra que partidos vão concentrar forças em regiões mais promissoras, segundo um levantamento feito pela Action Relgov, a pedido da FPE (Frente Parlamentar do Empreendedorismo).
Chapa única
Segundo especialistas ouvidos pelo UOL, isso ocorre porque, pela primeira vez em uma eleição geral, candidatos a deputado somente poderão disputar o cargo por meio de chapa única dentro do partido pelo qual estão filiados, e não mais em um agrupamento de siglas, como era permitido antes.
Neste sistema, o total de votos de um partido é que define quantas cadeiras ele terá. Definidas as cadeiras, os candidatos mais votados do partido são chamados a ocupá-las. Dessa forma, o voto de um eleitor não corre o risco de alimentar cadeiras de um partido ao qual ele não siga ou não concorde, mas que estava coligado com outro de sua preferência.
Por outro lado, o fim das coligações torna a disputa mais acirrada para os partidos, a depender do estado e de seu eleitorado. “Fica mais difícil montar uma nominata [lista de candidatos] para ir à disputa. Esses partidos precisam de uma quantidade de votos maior para passar a quantidade mínima. Para o eleitor é bom, porque ele vota em uma legenda e não corre o risco de eleger candidato de outra”, afirma o cientista político Leandro Consentino, professor do Insper.
Outros partidos
O PSDB, que lançou candidatos em todos os estados em 2018, deixou de fora das suas pretensões deste ano o Piauí e Rondônia, apesar de ter selado uma federação com o Cidadania. O Progressistas, de Arthur Lira (AL) e Ciro Nogueira (PI), não deverá ter candidato para a Câmara Federal no Amazonas, por não ter conseguido fechar chapa — desde 2002 a sigla teve disputas em todo o território nacional.
Até mesmo o partido do presidente Jair Bolsonaro, o PL, caminha para enxugar seus quadros e deve deixar de fora do mapa Acre e Alagoas.
Pequenos sofrem mais
A mudança, segundo especialistas, afeta, principalmente, partidos menores. O PMN e o Novo, por exemplo, apresentaram ao TSE, até o momento, candidatos para apenas 17 estados. Em 2018, o PMN teve candidatos em todas as unidades da federação e o Novo, em 19.
Para o cientista político e professor da UFRJ Jairo Nicolau, as novas regras devem compactar a representação nos estados. “Vai haver também uma redução grande do número de partidos. Estamos em um processo de enxugamento”, disse.
Segundo ele, uma das estratégias dos partidos é alocar o dinheiro disponível para as campanhas para candidaturas com mais chance de vitória.
A Tarde