domingo, novembro 24, 2024

Autodeclaração causa desgaste na imagem de ACM Neto

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Atitude auxilia no processo de esvaziamento de sua candidatura

Já é consenso, entre os analistas políticos do País, que a polêmica em torno da autodeclaração étnica de ACM Neto à Justiça Eleitoral, na qual se definiu como “pardo”, abalou sua imagem como figura pública e auxilia no processo de esvaziamento de sua candidatura ao governo da Bahia, nesta reta final de campanha.

Mesmo entre parte de seus aliados, a manobra é vista com reprovação. “O evento traz à memória, principalmente dos mais antigos, algumas práticas condenáveis do ‘velho ACM’ (avô de Neto)”, avalia um importante aliado do ex-prefeito de Salvador, em Feira de Santana. O avô de Neto, ex-governador da Bahia e senador, ficou conhecido no universo político nacional por tentar manobrar o sistema para obter vantagens, eleitorais e pessoais, em ações que iam da chantagem e da perseguição a opositores a episódios que ficaram conhecidos internacionalmente, como os da violação do painel de votação do Senado e da instalação de grampos telefônicos, usando a estrutura da Secretaria de Segurança Pública da Bahia, para monitorar e ameaçar antagonistas políticos e pessoais.

“A gente observa que a autodeclaração de ACM Neto tem um viés eleitoreiro e oportunista”, afirma o presidente da União de Negros pela Igualdade na Bahia (Unegro), Eldon Neves. “Que tipo de candidato é esse que se utiliza dos instrumentos de emancipação de uma população para se beneficiar politicamente?”, questiona. “Isso é o mesmo que jogar as nossas lutas ancestrais no lixo e duvidar da inteligência do povo negro.” “As pessoas que compõem esse grupo político-ideológico da direita e da extrema-direita no Brasil são brancas, racistas, heteronormativas, que acumularam e continuam acumulando suas fortunas a partir da apropriação indevida das riquezas econômicas do País e das riquezas culturais dos povos originários”, sentencia a socióloga Vilma Reis, coordenadora do Coalizão Negra Por Direitos. “O legado que pertence a esse grupo, do qual ACM Neto faz parte, é o legado do branco invasor, usurpador de terras, explorador do trabalho escravo, usurpador do capital social na política, no judiciário, na cultura e em todas as áreas.”

Na tentativa de aliviar as pressões decorrentes da autodeclaração, ACM Neto, em vez de reconhecer o erro, apontou para o governador Rui Costa, também autodeclarado pardo na Justiça Eleitoral – e que, para ele, tem “tom de pele parecido”. Filho de mãe negra e nascido no bairro popular da Liberdade, em Salvador, o governador rebateu. “Onde que está, na árvore genealógica dele, alguma raiz africana para se declarar pardo? Quem é o antepassado que passou pelo quilombo ou pela senzala?”, questionou. “Imagine se é um concurso público, em que ele se declara para ter benefício da cota? É o que ele está fazendo.”

O cientista político e executivo-chefe da AtlasIntel, Andrei Roman, vai além: ele acredita que a polêmica envolvendo a autodeclaração de Neto afeta até sua própria base eleitoral. “Ele acaba se prejudicando politicamente dos dois lados”, avalia. “Do lado da esquerda, porque acaba levando para o ‘irrisório’ a questão da identidade racial, algo que é muito caro para o público progressista, que preza pela maior representatividade racial no País. E também do lado do eleitor mais conservador e de direita, que não entende porque ele não pode se declarar como ‘branco’, como se entende que ele é.”

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A Tarde

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