Discussões entre candidatos dominaram os blocos do último confronto antes do primeiro turno
O debate realizado na noite da quinta-feira, 29, pela Rede Globo, o último antes do primeiro turno das eleições, que acontece no domingo, 2, teve momentos de tensão entre os candidatos e pouco espaço para que os postulantes ao Palácio do Planalto confrontassem as suas propostas de governo.
á no início, no primeiro bloco do debate, quando participava do debate direto com o candidato Padre Kelmon (PTB), o presidente Jair Bolsonaro (PL) fez acusações ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). “Nós não podemos continuar num país da roubalheira. O governo que nos antecedeu não tinha qualquer compromisso, qualquer respeito com a família brasileira. É um governo que quis impor a agenda da ideologia de gênero […], que quer a liberação das drogas. Esse governo do PT, ou melhor, desgoverno… Por exemplo, Lula defendia que se roubasse um celular para tomar uma cervejinha”, declarou Bolsonaro.
A partir disso, começou uma sequência de pedidos de direito de resposta entre Lula e Bolsonaro por causa das suas falas. Os dois trocaram acusações sobre episódios de corrupção durante os governos petistas e do atual presidente. Lula questionou Bolsonaro sobre sua gestão durante a pandemia e as acusações levantadas pela CPI da covid. Ao passo que Bolsonaro respondeu mencionando a prisão do ex-presidente e fazendo críticas aos episódios de corrupção durante os governos do PT. “Tome vergonha na cara, Lula”, afirmou o atual presidente.
Após ser acusado por Bolsonaro pela morte de Celso Daniel, ex-prefeito de Santo André. “Não é possível conviver com alguém com tamanha cara de pau. Não tive nada a ver com isso. Pare de mentir porque o povo não aguenta mais”, criticou Lula.
Já no segundo bloco, foi a vez do Padre Kelmon e da candidata Soraya Thronicke (União Brasil) protagonizarem trocas de ironias. Tudo começou quando a candidata questionou o padre a respeito das contradições do atual governo, sobretudo no que se refere às questões raciais. Kelmon respondeu dizendo que “Somos todos irmãos, o índio, o preto, o marrom. Somos todos brasileiros. Essa política cria mais divisão. Raça só existe uma, a humana. Precisamos enxergar o outro como um irmão. Essas pessoas de esquerda estão com retórica de dividir para dominar”.
Thronicke, então, criticou a falta de propostas do seu adversário, a quem chamou de “cabo eleitoral” de Bolsonaro. Eu acho que o senhor vai dar mal com seu candidato [Jair Bolsonaro]. Quer aproveitar que não tem proposta e falar sobre imposto único. O senhor não estudou e está parecendo o seu candidato que é nem-nem: nem estuda e nem trabalha”, acusou afirmando que Kelmon é “um padre de festa junina”.
Novamente Padre Kelmon foi o centro de um bate-boca, desta vez no terceiro bloco. O seu oponente, nessa ocasião, foi Lula. O clima esquentou entre os dois depois que o petebista se dirigiu ao ex-presidente solicitando uma posição sobre as denúncias de corrupção durante os governos do petista. “O senhor é responsável pela corrupção, o senhor é um descondenado e nem deveria estar aqui”, afirmou. Em seguida, Kelmon chamou Lula de “cínico” e o clima ficou tenso. Em meio a esse clima, o jornalista William Bonner pediu calma. O candidato do PTB retomou então sua fala, dizendo que Lula é “fundador do foro de São Paulo” e “mente o tempo todo para o povo”.
Lula rebateu apontando que foi “absolvido” de todos os processos. “Eu acho que candidato está desinformado ou lê o que quer. Eu tive 26 denúncias mentirosas feitas por um juiz que depois virou ministro do governo de Bolsonaro. Eu fui absolvido no Brasil pela Suprema Corte e pela ONU. Na quarta-feira, 28, fui absolvido em uma outra ação pelo ministro Gilmar Mendes”, destacou.
No quarto bloco, já no início, foi sorteado para a candidata do União Brasil, Soraya Thronicke, perguntar sobre Segurança Pública. No entanto, ela escolheu o presidente Jair Bolsonaro (PL) para debater e perguntou se o chefe do Executivo pretendia dar um golpe, caso não fosse eleito.
Bolsonaro alertou que esse não era o tema da rodada, sobre segurança pública, e não respondeu a respeito de uma possível ruptura institucional. Ela, então, o perguntou se ele tomou a vacina contra a covid-19. O presidente, por mais uma vez, não respondeu. “Comprei 500 milhões de doses de vacina. Vacinou-se quem quis. Quem não quiser tomar vacina, que não tome”.
Bolsonaro ainda acusou que a senadora o ataca tanto porque não atendeu os pedidos por cargos que a candidata fez para empregar nomes indicados por ela em cargos comissionados. “A senhora seria muito dócil comigo, por exemplo, se eu tivesse atendido a senhora em todos os cargos que a senhora pediu para mim, por ofício, assinado”. “A senhora está fazendo um papel de laranja, com certeza”, acusou também o presidente.
Lula X Ciro
Ainda que o debate tenha se iniciado com Ciro Gomes (PDT) partindo para cima do ex-presidente Lula perguntando sobre as medidas econômicas tomadas pelo petista durante sua passagem pela Presidência, o debate direto entre os ex-aliados se confrontou diretamente ao longo do debate.
No terceiro bloco, Lula escolheu o tema da cultura e questionou o candidato Ciro Gomes (PDT) a respeito das suas propostas para a cultura. “Minha proposta é recriar o Ministério da Cultura e rever as leis de fomento”. Segundo Ciro, ele pretende nacionalizar o fomento à expressão cultural. “Praticamente se concentram todos os recursos em São Paulo e no Rio. Quero adaptar as leis de fomento para que haja uma cota às expressões de cultura popular”, afirmou.
Em sua réplica, Lula também defendeu a descentralização da cultura. “Eu tenho feito reuniões em todas as capitais, com todo mundo, do povo periférico a artistas famosos, em como a gente vai transformar a cultura. As pessoas não têm noção de quanto dinheiro e investimento um show gera. Quero estabelecer uma cultura nacionalizada, sem ficar dependente do eixo Rio-SP. Tem que falar que as emissoras menores precisam ter horário para a cultura local”. defendeu.
Na última rodada dos debates, os dois voltaram a se confrontar e, por mais uma vez, o clima foi de concordância entre eles. O ex-presidente Lula questionou Ciro sobre como reduzir os problemas climáticos globais, olhando em especial no combate ao desmatamento. O ex-governador do Ceará disse que pretende instituir um “zoneamento econômico e ecológico” na Amazônia a fim de impedir o desmatamento “porque 40 milhões de irmãos nossos moram” na região. O candidato também citou a necessidade de “extrair a riqueza da floresta em pé”. Já Lula, na réplica, prometeu que em um futuro governo, “não haverá ocupação irregular, nem garimpo ilegal”.
A Tarde