A arquidiocese de Belém afirmou em nota divulgada na noite desta sexta-feira (7) que não convidou o presidente Jair Bolsonaro (PL), candidato à reeleição, para participar do Círio de Nazaré, uma das maiores celebrações religiosas e populares do país.
A unidade da Igreja Católica, responsável pela organização da festa, disse ainda que o acesso do candidato à embarcação da Marinha é uma responsabilidade da própria Força e que não está permitida a utilização política ou partidária do evento religioso.
Bolsonaro decidiu usar o Círio de Nazaré no Pará para fazer campanha na tentativa de reeleição.
A campanha de Bolsonaro confirmou a presença dele no chamado Círio fluvial, quando uma imagem de Nossa Senhora de Nazaré é colocada numa embarcação da Marinha e levada de um distrito de Belém até o centro da cidade, seguida de jet skis e embarcações com capacidade para até 700 pessoas.
O presidente chegou à Base Aérea de Belém no começo da noite desta sexta-feira (7).
“Tomamos conhecimento da presença do senhor presidente da República, Jair Bolsonaro, na Corveta da Marinha Garnier Sampaio durante a romaria fluvial”, cita a nota divulgada depois das 22h desta sexta.
“Comunicamos não ter havido nenhum convite da parte da arquidiocese de Belém, nem da diretoria da festa de Nazaré, a qualquer autoridade seja em nível municipal, estadual ou federal. Entretanto reconhecemos ser responsabilidade da Marinha do Brasil o acesso à referida embarcação”, diz a nota, assinada pelo arcebispo de Belém, dom Alberto Taveira Corrêa.
“Cabe ao arcebispo de Belém a condução da imagem peregrina em todas as etapas de embarque e desembarque do Garnier Sampaio”, afirma. “Temos o dever de observar a plena liberdade de qualquer cidadão ou cidadã de participar dos eventos do Círio de Nazaré. Todavia, não desejamos e nem permitimos qualquer utilização de caráter político ou partidário das atividades do Círio.”
A romaria fluvial, a ser realizada neste sábado (8), não é vista como uma das principais do Círio de Nazaré.
Conforme o que consta na agenda divulgada pela campanha de Bolsonaro, a participação do presidente se limitaria a essa romaria.
Segundo integrantes da arquidiocese de Belém, uma das responsáveis pela festa, a Presidência da República fez contatos na quinta (6) para repassar orientações sobre a presença de Bolsonaro no Círio. Ele deve ficar no navio da Marinha para recepcionar a imagem de Nossa Senhora de Nazaré.
A confirmação da presença do candidato na festa causou desconforto entre integrantes da arquidiocese. A diretoria da festa vinha mantendo o silêncio a respeito.
O gesto do candidato é considerado raro na arquidiocese. O ex-presidente Lula (PT), que disputa o segundo turno das eleições com Bolsonaro, disse que não vai comparecer para evitar uso político de um evento religioso. O governador reeleito do Pará, Helder Barbalho (MDB), aliado de Lula, vem criticando o uso político do Círio por Bolsonaro.
Os festejos do Círio de Nazaré começaram na terça (4). Nesta sexta, houve uma romaria rodoviária, um trecho de 57 quilômetros que envolve Belém, Ananindeua e Marituba.
No sábado, logo cedo, a imagem é levada até o distrito de Icoaraci. O navio da Marinha, onde Bolsonaro deve estar, sai do Porto Naval e vai até o distrito para buscar a imagem.
A procissão fluvial, então, é realizada, um percurso de 26 km de navegação. Cerca de 500 embarcações devem acompanhar a romaria.
À tarde, no sábado, ocorre a romaria que é considerada a segunda mais importante do Círio, entre a basílica e a catedral. Esta romaria é feita com a imagem original —as anteriores usam o que os católicos chamam de imagem peregrina.
Nesta romaria já existem as cordas, que puxam o carro com a imagem e que são procuradas por multidões de fiéis. Para esta romaria, segundo a arquidiocese, é esperado 1,5 milhão de pessoas, num percurso de 3,7 km.
A principal romaria ocorre no domingo (9), quando são esperados 2 milhões de pessoas. Os eventos do Círio prosseguem pelos dois fins de semana seguintes, conforme a arquidiocese de Belém.
O Círio é realizado há mais de 200 anos na capital do Pará, e é considerado uma das maiores manifestações católicas do mundo.
Vinicius Sassine/Folhapress