Exaltado, Jair Bolsonaro atacou Alexandre de Moraes e o STF, e chamou petista de “pinguço”
A sexta-feira, 7, foi marcada por polêmica nas campanhas presidenciais. Em coletiva de imprensa, o presidente e candidato à reeleição, Jair Bolsonaro (PL), se exaltou e chamou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de “pinguço”. O petista, por sua vez, rechaçou o ataque do mandatário e disse que “quem quer ser um chefe de Estado não pode ficar nervoso”.
O clima tenso começou quando Bolsonaro começou a falar de Alexandre de Moraes. Em tom de voz elevado e expressão raivosa, ele criticou a decisão do ministro do STF de quebrar o sigilo de mensagens do assessor da Presidência, Mauro Barbosa Cid, para o inquérito das milícias digitais.
“O tempo todo usando a caneta para fazer maldade, tentar me tirar de combate, para desgastar. Já desafiei o Alexandre de Moraes, que vazou a quebra de sigilo telemático do meu ajudante de ordens, que é um crime o que esse cara fez. Esse cara fez um crime. Meu ajudante de ordem, em especial o Cid é um cara de confiança meu”, reclamou o presidente, aos gritos.
Bolsonaro também reclamou da multa aplicada contra ele pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Na ocasião, a Corte, presidida por Moraes, entendeu que Bolsonaro fez propaganda eleitoral antecipada ao reunir embaixadores estrangeiros em Brasília para disseminar fake news contra as urnas eletrônicas.
“Será que é difícil enxergar tudo isso, que eu estou lutando não é por mim? É pelo Brasil. Para mim era muito mais fácil estar do outro lado do balcão, do lado daquele cara que está no Supremo e está no TSE [Alexandre de Moraes]. Tudo canetando contra mim. Acabou de me dar uma multa de R$ 20 mil porque eu reuni embaixadores aqui”, completou Bolsonaro, aos gritos.
Em seguida, o presidente voltou a subir o tom para falar de Lula. Sem apresentar provas, Bolsonaro disse que o petista é uma ameaça a autoridades religiosas e às Forças de Segurança. O presidenciável disse ainda que o rival político é um ‘pinguço’.
“Se vocês botarem um pinguço para dirigir o Brasil…Um cara sem qualquer responsabilidade, que tem um rastro de corrupção. Um rastro de deboche para com a família brasileira, de ataques a padres, a pastores, de ataque às Forças Armadas, de ataque aos policiais. Vocês acham que vai dar certo?”, atacou Bolsonaro.
Bolsonaro também acusou o STF de estar fazendo uma manobra pró-Alckmin. Segundo ele, os ministros da Corte estariam apoiando Lula para depois derrubá-lo e deixar seu vice, o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin, governando o país.
“Não sou refém de ninguém. Por que muitos preferem o Lula, alguns do Supremo? Porque vai ser marionetado. Vai ser mandado, vai ter rabo preso. E que vontade, né, de cassar o Lula, se um dia ele chegar, para o Alckmin, amigo íntimo de Alexandre de Moraes, assumir o governo. É mentira o que eu estou falando? Será que é difícil vocês entenderem isso?”, acusou.
O prefeito de Maceió, João Henrique Caldas, declarou apoio à candidatura à reeleição de Bolsonaro. Os dois se reuniram no início da tarde desta sexta-feira no Palácio da Alvorada, em Brasília. A senadora Doutora Eudócia (PSB) também participou do encontro e endossou o apoio ao mandatário. Eleito pelo PSB, o prefeito se filiou ao PL nesta sexta-feira, partido de Bolsonaro.
No sábado, 8, o presidente participa do Círio de Nazaré, em Belém, no Pará, uma manifestação religiosa católica em devoção à Nossa Senhora de Nazaré.
Lula respondeu
Pelas redes sociais, Lula respondeu aos ataques afirmando que quem quer ser um chefe de Estado não pode ficar nervoso.
“Vamos viajar o Brasil, visitar os estados que vão ter segundo turno. E vamos fazer debates. Vi que o Bolsonaro anda nervoso, anda me xingando. Mas ele precisa saber quem quer ser um chefe de Estado não pode ficar nervoso”, escreveu.
Na sequência, ele voltou a citar o famoso sigilo de 100 anos imposto por Jair Bolsonaro, que prometeu quebrar no debate da TV Globo do dia 29 de setembro. “Quebraram meus sigilos, me investigaram e venci todos os processos, no Brasil e na ONU. Não devo nada à Justiça. Tem alguém espumando com medo da quebra dos seus sigilos de 100 anos”, provocou.
Nesta sexta, Lula e a senadora Simone Tebet (MDB-MS) se encontraram publicamente, em São Paulo, para selar o apoio no segundo turno e fazer uma declaração à imprensa. A senadora terminou em terceiro lugar na disputa presidencial, com 4,2% dos votos válidos, quase 5 milhões de sufrágios nas urnas. O apoio já havia sido anunciado na quarta-feira, 5, mas foi a primeira aparição pública de ambos, juntos no mesmo projeto.
“Nós temos nossas diferenças políticas, temos nossas diferenças econômicas, mas elas são infinitamente menores do que o que nos une. O que nos une é nosso amor mais profundo ao Brasil, nosso respeito incondicional à democracia, aos valores e princípios estabelecidos na Constituição”, afirmou Tebet em seu pronunciamento.
Ela também aproveitou para anunciar que todas as suas propostas apresentadas como condições de apoio a Lula no segundo turno haviam sido acatadas pela campanha do petista. “Hoje, eu estou aqui, muito feliz para dizer que o presidente Lula, sua equipe econômica de assessores, acabam de receber e incorporar todas as sugestões que fizemos no nosso programa de governo ao seu programa de governo. Com isso, o que estamos dizendo aqui é que pensamos da mesma forma o Brasil que queremos”.
As propostas de Tebet incluem o apoio do governo federal para municípios zerarem filas na educação infantil para crianças de 3 a 5 anos de idade para que os estados implantem ensino médio técnico em tempo integral; apoio do governo federal para zerar fila de consultas e cirurgias eletivas e soluções para o endividamento das famílias que ganham até três salários mínimos. A senadora ainda propôs que, se eleito, Lula sancione lei para igualar salários entre homens e mulheres que desempenham, com currículo semelhante, as mesmas funções, e nomeie um ministério plural formado por homens, mulheres, pessoas com deficiência e negros e negras.
“A proposta que você apresentou à minha proposta de plano governo é totalmente assimilável, e pode estar certa que vamos colocar em prática, e eu espero que você esteja junto para ajudar a executar cada uma dessas coisas que você propõe”, disse Lula, após o pronunciamento de Tebet.
Simone Tebet afirmou que vai atuar diretamente na campanha de Lula nas próximas semanas, onde for requisitada. “Eu já estou na campanha, eu vou estar onde a campanha precisar, dentro da minha humilde pequenez, mas sabendo da minha grandiosidade como mulher”, enfatizou, lembrando que já apareceu na propaganda eleitoral obrigatória de rádio e televisão, que foi retomada nesta sexta-feira.
“Temos uma campanha, uma parte será na televisão, outra parte será na rua, e nós temos alguns estados que precisamos visitar”, acrescentou Lula, ressaltando a intenção de visitar todos os estados onde haverá disputa de segundo turno para governador. “E tem que ter os debates. E nós vamos fazer os debates”, assegurou.
Fernando Henrique
Após o encontro com Tebet, o ex-presidente Lula visitou o também ex-presidente brasileiro Fernando Henrique Cardoso (PSDB), em seu apartamento, na capital paulista. “Um reencontro democrático com FHC”, afirmou Lula em postagem nas redes sociais pra divulgar a visita. Antigos adversários políticos, Lula disputou a presidência contra FHC por duas eleições, sendo derrotado em ambas.
A Tarde