Descobertas conectam o antigo gabinete do ex-presidente à mobilização de atos antidemocráticos
As investigações que correm na suprema corte brasileira, sob o comando do ministro Alexandre de Moraes, apontam um personagem-chave que pode apresentar sérias revelações de corrupção no gabinete de Bolsonaro. A figura é o ajudante do ex-presidente, o tenente-coronel do Exército Mauro Cesar Barbosa Cid, conhecido como “coronel Cid”.
As descobertas associam o antigo gabinete de Bolsonaro diretamente à mobilização do atos antidemocráticos do dia 8 de janeiro e lançam graves suspeitas sobre a existência de uma espécie de caixa 2 dentro do Palácio do Planalto, com dinheiro vivo proveniente, inclusive, de saques feitos a partir de cartões corporativos da Presidência e de quartéis das Forças Armadas. É o que aponta com exclusividade o site Metrópoles, nesta sexta-feira, 20.
Segundo a publicação, coronel Cid compartilhava da intimidade do ex-presidente, com acompanhamentos em tempo quase integral, dentro e fora dos palácios. O militar era, inclusive, o guardião do aparelho celular de Bolsonaro. Atendia ligações e respondia mensagens em nome dele. Também cuidava de tarefas pessoais da família como pagar as contas.
Os policiais escalados para trabalhar com Alexandre de Moraes estão com recibos nos pagamentos de um cartão de crédito com dinheiro do caixa informal gerenciado pelo tenente-coronel. As faturas são de um cartão emitido em nome de uma amiga próxima da ex-primeira dama, Michelle Bolsonaro, que utilizava o mesmo recurso para custear suas despesas.
Quebra de sigilo ajudou rastrear transações
Cid já era alvo dos inquéritos conduzidos por Moraes. Em 2022 o jornal Folha de S. Paulo noticiou que mensagens de texto, imagens e áudios encontrados no celular do oficial do Exército levaram os investigadores a suspeitar das transações financeiras realizadas por ele.
Depois deste episódio, o ministro do STF autorizou quebras de sigilo que permitiram analisar as operações realizadas pela equipe do tenente-coronel, a maioria com dinheiro em espécie, na boca do caixa de uma agência bancária localizada dentro do Palácio do Planalto.
O material já indicava que Cid centralizava recursos que eram sacados de cartões corporativos do governo ao mesmo tempo em que tinha a incumbência de cuidar do pagamento, também com dinheiro vivo, de diversas despesas da família presidencial, incluindo contas pessoais de familiares de Michelle Bolsonaro.
As apurações revelaram semelhança com o caso das rachadinhas do filho 01 do ex-presidente, o senador Flávio Bolsonaro. Saques em espécie. Pagamentos em espécie. Uso de funcionários de confiança nas operações. As transações do tenente-coronel do Exército foram apelidadas de “rachadinha palaciana”.
Ainda de acordo com o Metrópoles, o montante sacado a partir de cartões corporativos que eram usados pelo próprio staff da Presidência, apareceram indícios de que valores provenientes de saques feitos por outros militares ligados a Cid e lotados em quartéis de fora de Brasília, eram repassados ao tenente-coronel. Os detalhes dessas transações estão mantidos sob absoluto sigilo, trafegando entre o gabinete de Moraes e o restrito núcleo da PF.
Registros em vídeo também mostram que pessoas da equipe de Cid, o ajudante de ordens do presidente, eram responsáveis por quitar também em espécie os boletos do presidente, da primeira-dama e de seus familiares. Entre os pagamentos, estão faturas de um cartão de crédito adicional emitido por uma funcionária do Senado Federal de nome Rosimary Cardoso Cordeiro. Lotada no gabinete do senador Roberto Rocha, do PTB do Maranhão, Rosimary é amiga íntima de Michelle Bolsonaro desde os tempos em que as duas trabalhavam na Câmara assessorando deputados.
Depois que Michelle virou primeira-dama do Brasil, Rosi passou a contar com viagens a bordo de jatinhos e até do avião presidencial. Em maio do ano passado, Rosi acompanhou Michelle em um tour por Israel. Elas viajaram juntas em voos fretados e pagos pelo PL para eventos da campanha de reeleição de Jair Bolsonaro.
Áudios de Bolsonaro x atos golpistas
O material adquirido nas investigações sobre o coronel Cid o associa aos atos antidemocráticos que já vinham sendo investigados por Moraes e que terminaram com a invasão das sedes dos três poderes.
Nas mensagens de texto e áudio, Cid atuava como elo entre Bolsonaro e os radicais que alimentavam a militância bolsonarista a atacar as instituições. Um dos contatos frequentes de Cid era Allan dos Santos, o blogueiro que vive nos Estados Unidos e em outubro de 2021 teve a prisão decretada pelo ministro Alexandre de Moraes.
Bolsonaro surge como interlocutor em várias das mensagens que Cid mantinha em seus aplicativos e foram copiadas pelos investigadores com autorização de Moraes. Áudios enviados por Bolsonaro ao para Cid indicam que ele tinha controle de tudo o que Cid executava no financeiro ou na interlocução com os bolsonaristas radicais.
A Tarde