O presidente Jair Bolsonaro (PL) chamou nesta terça-feira (7) a linguagem neutra de “dos gays” e disse que ela “estraga a garotada”.
“Lembra dois anos atrás a questão da linguagem neutra dos gays [no Enem]? Não tenho nada contra, nem a favor. Cada um faz o que bem entender com seu corpo. Mas por que a linguagem neutra dos gays? Que que soma para gente numa redação? Agora, estimula a molecada se interessar por essa coisa, por…”, disse o presidente a apoiadores no cercadinho do Palácio do Alvorada.
Um deles complementa a frase de Bolsonaro: “Vai estragando a linguagem”.
É, então, que o presidente diz: “A linguagem é o de menos, vai estragando a garotada”.
A linguagem neutra cria pronomes que contemplem pessoas de gênero não binário, complementando “ele/ela”. Esse tipo de linguagem não diz respeito a orientação sexual.
As declarações ocorreram enquanto o presidente e seus eleitores discutiam o Enem (Exame Nacional de Ensino Médio). O chefe do Executivo disse que o próximo exame “vai ser nosso”.
Bolsonaro já havia dito, quando estava em Dubai, na semana do Enem, em novembro, que a prova começava a ter “a cara do governo”. O presidente foi acusado de tentar interferir na prova para estudantes secundaristas, o que negou.
O Enem ocorreu neste ano em meio a uma crise no Inep (Instituto nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais), que realiza a prova. Trinta e sete servidores pediram desligamento de cargos de chefia. Houve denúncias de assédio moral e menção à “fragilidade técnica e administrativa da atual gestão máxima”.
Alguns querem que a gente mude de uma hora para outra. Começa a mudança agora. O próximo Enem que vai ser nosso. Falar que tinha que interferir… Se eu pudesse interferir, não seria esse tipo de Enem que tá aí. De jeito nenhum”, disse Bolsonaro a apoiadores.
Depois da prova deste ano, o banco de questões do Inep passa a ter apenas aquelas formuladas durante do governo Bolsonaro.
O presidente chegou a fazer um pedido ao ministro da Educação, Milton Ribeiro, para que as questões que tratassem sobre o golpe militar de 1964 fossem tratadas como uma revolução.
A demanda teria ocorrido no primeiro semestre, segundo relatos de integrantes do governo.
Ribeiro chegou a comentar a fala com equipes do MEC (Ministério da Educação) e do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais), mas não levou o pedido adiante de modo prático, uma vez que os itens passam por longo processo de elaboração.
Marianna Holanda/Folhapress