O desemprego de longo prazo alcançou patamar recorde no País no terceiro trimestre. Quase 30% dos cerca de 13,5 milhões de desempregados estavam em busca de uma vaga há mais de dois anos, maior porcentual de pessoas nessa situação em toda a série histórica iniciada em 2012, segundo levantamento do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Além disso, o emprego sem carteira assinada cresceu mais do que o trabalho com carteira em todas as atividades econômicas que abriram vagas em relação a um ano antes.
O estudo tem como base os microdados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), apurada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), e o Novo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Novo Caged).
O aumento do tempo de permanência no desemprego é mais um indício de que a situação do mercado de trabalho continua desafiadora, apontou o Ipea. No pré-pandemia, no primeiro trimestre de 2020, o porcentual de desempregados em busca de trabalho há dois anos ou mais era de 23,9%. Essa proporção alcançou um ápice de 28,9% no terceiro trimestre de 2021. Segundo Maria Andreia Lameiras, uma das autoras do levantamento do Ipea, quanto mais tempo o trabalhador fica sem emprego, mais ele sofre desconfianças sobre ter as habilidades necessárias para novas vagas.
“Esse cara, que fica tanto tempo fora do mercado de trabalho, tem mais baixa escolaridade. Ele já estava fora do mercado quando veio uma pandemia, que deixou muita gente qualificada sem emprego. As empresas vão primeiro voltar a contratar essas pessoas mais qualificadas, com mais escolaridade, há menos tempo procurando vaga. Quem está há mais tempo desempregado vai ficar no final da fila. Ou ele vai ter que fazer algum tipo de qualificação para conseguir se recolocar, ou vai voltar para o mercado quando tiver muita geração de emprego para contratar todo mundo que está na frente dele na fila. A gente sabe que isso não vai acontecer em 2022”, disse a técnica do Ipea.
Houve aumento também na proporção de pessoas buscando emprego há pelo menos um ano, mas menos que dois anos, de uma fatia de 12,6% dos desempregados no primeiro trimestre de 2020, pré-pandemia, para 19,5% no terceiro trimestre deste ano. Por outro lado, houve redução na proporção de desempregados mais recentes, que estão nessa condição há menos de um mês (de 18,0% para 11,0%) ou há mais de um mês, mas menos de um ano (de 45,5% para 40,6%).
“Quanto mais tempo as pessoas ficam sem trabalho, mais difícil fica de arrumar emprego”, disse Rodolpho Tobler, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV). “Isso afeta não só a vida das pessoas como até a produtividade da economia, porque esses desempregados vão perdendo a sua capacidade produtiva”, disse Tobler.
De acordo com a Pnad Contínua, a taxa de desemprego foi de 12,6% no terceiro trimestre, ante 14,9% um ano antes. O total de empregos com carteira assinada no setor privado cresceu 5,9% no terceiro trimestre de 2021 ante o terceiro trimestre de 2020. No mesmo período, o montante de profissionais sem carteira assinada no setor privado aumentou 18,5%.
Nas dez das 13 atividades econômicas em que houve alta no emprego com carteira assinada, a variação foi mais branda que a do emprego sem carteira. O segmento de serviços domésticos teve a maior diferença registrada entre o crescimento anual do emprego formal, ou seja, com carteira assinada (4,0%), e do emprego informal, sem carteira assinada (28,1%). Em alojamento e alimentação houve um salto de 22,0% no emprego com carteira, mas a variação do emprego sem carteira foi quase o dobro, 39,2%. Na indústria de transformação, a alta no estoque de vagas com carteira foi de 8,7%, enquanto o de sem carteira subiu 22,6%. No comércio, o emprego com carteira aumentou 8,8%, e o emprego sem carteira, 26,8%.
O Ipea lembra que o emprego informal sofreu mais na crise sanitária do que o formal, por isso essa recuperação mais intensa via informalidade já era esperada com o controle da pandemia. A expectativa para os próximos meses é “de um crescimento menos acentuado da ocupação em 2022, refletindo um desempenho mais moderado da atividade econômica”.
Para Rodolpho Tobler, do Ibre/FGV, não há perspectiva de que a taxa de desemprego volte ao patamar de um dígito: ele prevê que desça a 12,3% no quarto trimestre deste ano, mas encerre 2022 ainda por volta de 12%.
Daniela Amorim / Estadão