sábado, novembro 23, 2024

Partido mais novo do Brasil, UP terá estreia nacional e critica alianças da esquerda

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Com cerca de 3.000 filiados e ainda sem diretórios em todos os estados, a UP (Unidade Popular pelo Socialismo) vai encarar a sua primeira eleição nacional neste ano.

Diferentemente da Aliança pelo Brasil, partido que o presidente Jair Bolsonaro tentou viabilizar sem sucesso até agora, a UP conseguiu o seu registro junto ao TSE em 2019 e é a legenda mais nova do país, que já conta com 33 partidos homologados.

Para conseguir a criação de um partido político, a legislação brasileira exige, atualmente, a coleta de 491.967 assinaturas de apoiadores distribuídos em pelo menos nove unidades da Federação.

Enquanto nos últimos dois anos, a tentativa fracassada de Bolsonaro de criar um partido só conseguiu 140 mil assinaturas de apoio, a UP, crítica ao presidente, já conseguiu o seu registro e disputou as eleições municipais em 2020, com o lançamento de 99 candidatos a vereador e 15 a prefeito, sem nenhum eleito ainda.

Para este ano, o partido ainda articula apoios e possíveis candidaturas aos governos estaduais e ao Congresso Nacional, mas já lançou sua pré-candidatura à Presidência da República. O presidente do partido, Leonardo Péricles, 40, pretende concorrer ao maior cargo político do país.

De Belo Horizonte e morador da Ocupação Urbana, ele enfrentará sua terceira eleição. Em 2020 foi candidato a vice-prefeito da capital mineira na chapa liderada por Áurea Carolina (PSOL). Anos antes, tentou se eleger como vereador da cidade, na época pelo PDT, mas também não foi bem-sucedido.

Em um primeiro momento, Péricles descarta que o partido possa participar de alguma composição com outras legendas no próximo pleito, em âmbito nacional.

“A nossa defesa era que houvesse uma ampla unidade do conjunto dos partidos e organizações do campo da esquerda. Só que sem a direita. Nossa divergência central é esse caminho de buscar alianças com setores da direita.”

Segundo ele, essa diferença de estratégia é uma das razões da decisão de lançar a candidatura.

Embora tenha evitado criticar diretamente o ex-presidente Lula (PT), líder das pesquisas de intenção de voto para a Presidência, Péricles afirmou que, se o partido estivesse apoiando a iniciativa de alianças com setores que não são de esquerda, articuladas pelo petista, “não teríamos lançado nossa pré-candidatura”.

A UP, que possui diretórios em 21 estados atualmente, segundo a própria legenda, surgiu a partir da articulação de movimentos sociais como o Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas; o Movimento de Mulheres Olga Benário; o Movimento Luta de Classes e a União da Juventude Rebelião.

Único homem negro a presidir um partido político atualmente no Brasil, Péricles diz que o nascimento da UP é uma espécie de crítica à forma como estão organizados os partidos no país, com pouco espaço para pessoas negras e mulheres e com debates distantes das pessoas de periferia.

“Construímos a UP com pessoas que não se sentiam representadas nos partidos”, diz. “Claro que tem que sair dos partidos [mais espaço político para pessoas negras]. É uma questão de coerência. Eu falo que quero combater o racismo e me alio à base que garante a manutenção do racismo.”

Apesar da importância de pautas ligadas as desigualdades raciais e sociais, o partido afirma que este não é o único viés de atuação e que pretende representar a classe trabalhadora como um todo.

Entre as plataformas da Unidade Popular estão a defesa da revogação da reforma trabalhista realizada durante o governo Temer. O partido também critica a forma como foi feita a reforma da Previdência.

Segundo Péricles, ao contrário do que argumentavam os defensores das mudanças, elas não geraram novos empregos e tiraram direitos dos trabalhadores.

A UP também se posiciona contra o teto de gastos e tem propostas de dar atenção aos debates sobre reforma agrária e taxação de grandes fortunas.

O surgimento da UP ocorre ainda no momento em que boa parte das legendas pequenas se movimenta em busca de integrar federações, por causa das mudanças que afetam os cálculos dos fundos partidário e eleitoral, principais fontes de renda das agremiações.

De acordo com Péricles, a UP financia suas atividades, até o momento, essencialmente com a contribuição de seus filiados.

“A Unidade Popular não é apenas uma saída eleitoral, é uma saída política. O mais importante para a gente é que consigamos manter os princípios políticos, a unidade com o povo só virá com coerência política e a articulação com outros partidos precisa estar ligada com essa questão.”

 

Tayguara Ribeiro/Folhapress

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