Ex-presidente defende ex-governador de SP em coletiva e afirma que ex-tucano está ‘contra Bolsonaro e Doria’
O ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou que não teria “nenhum problema” em compor uma chapa com o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (sem partido) nas eleições presidenciais deste ano. Em coletiva nesta quarta-feira, Lula defendeu Alckmin e disse que o ex-tucano já se definiu como oposição ao presidente Jair Bolsonaro e ao governador João Doria, pré-candidato pelo PSDB à Presidência.
— Não terei nenhum problema em fazer chapa com o Alckmin para ganhar as eleições e governar esse país. Só não posso dizer ainda porque falta definir para qual partido ele vai, ver se o partido vai fazer aliança com o PT — disse Lula, que no início da entrevista afirmou ainda não ter definido a própria candidatura.
Questionado sobre a viabilidade de aliança com Alckmin, Lula disse que nunca teve problemas na relação com ele nem com o senador José Serra (PSDB-SP), quando governaram São Paulo.
— Temos divergências, temos. Por isso pertencemos a partidos diferentes. Temos visões de mundo diferentes, temos. Mas isso não impede a possibilidade de que as divergências sejam colocadas em um canto e as convergências de outras para poder governar – afirmou.
Ao ser perguntado sobre críticas feitas no passado pela esquerda a episódios e medidas ocorridas durante as gestões de Alckmin no governo de São Paulo, Lula defendeu o ex-adversário.
— Sinto que você construiu uma quantidade de defeitos para poder falar do Alckmin. Só quem não tem falado do assunto é o Alckmin e eu. Todo mundo fala todo santo dia. Todo mundo dá palpite. Mas você não vê uma fala minha, uma fala do Alckmin. Ele saiu do PSDB e não se definiu para qual partido vai. Ele não tem partido hoje. E eu não defini minha candidatura. Então não pode ter candidato nem vice.
Lula disse que é preciso ter “tranquilidade” porque “o tempo vai se encarregar, e o tempo está chegando”.
— Todo mundo sabe o que quero para esse país. Não abro mão de que a prioridade seja o povo brasileiro, o povo trabalhador. Prioridade é o povo que está desempregado, o descamisado, que o Collor falava em 1989. Essa gente é que tem que ser nossa prioridade. E espero que o Alckmin esteja junto, sendo vice ou não, porque me parece que ele já se definiu como oposição não só a Bolsonaro como ao “dorismo” aqui em São Paulo. O PSDB do Doria não é o PSDB social-democrata do Mário Covas, do Fernando Henrique Cardoso, do José Serra, criado no período da Constituinte, no tempo do Franco Montoro — afirmou.
Segundo Lula, a decisão sobre a chapa acontecerá em breve:
— Na hora que tiver que acontecer, terei um imenso prazer de marcar outra coletiva. Se for Alckmin, que seja, como eu trazia o (então vice de Lula de 2003 a 2010) José Alencar.
Na mesma coletiva, Lula disse que Alckmin precisa ser “melhor ou igual” a José Alencar. A formação de uma chapa Lula-Alckmin, porém, está longe de ser consenso em setores da esquerda e dentro do próprio PT, que têm intensificado as críticas a essa possível aliança.
Da parte de Alckmin, as conversas com o PSB, que negocia apoio a Lula, estagnaram nas últimas semanas.
A coletiva desta quarta foi a primeira concedida pelo ex-presidente este ano e restrita a jornalistas do Blog da Cidadania, Brasil 247, Diário do Centro do Mundo, Jornal GGN, Jornalistas Livres, Rede Brasil Atual, Revista Fórum e Tutaméia.
Antes de abrir espaço às perguntas, o ex-presidente fez um discurso de vinte minutos, no qual afirmou que “ainda não está candidato”:
— Preciso de tempo para tomar essa decisão. Mas não duvidem do sacrifício que faremos para recuperarmos a democracia do Brasil.
Segundo Lula, a decisão só tem sentido “se tiver um compromisso de fé”.
— Não posso querer ser presidente para resolver problemas do sistema financeiro, dos empresários, daqueles que ficaram mais ricos na pandemia — disse.
Aceno a militares
Lula fez ainda um aceno às Forças Armadas, disse que teve uma boa relação e de investimentos em seu governo, e que “não é possível balizar as Forças Armadas pelas pessoas que estão no governo hoje”, em alusão à aliança de militares com o presidente Bolsonaro.
Segundo Lula, não existe problema nas Forças Armadas, mas “falta de orientação”.
— Não posso balizar as Forças Armadas pelas pessoas que estão no governo — afirmou. — Essa gente não representa as Forças Armadas. Estou convencido que há um grupo de aproveitadores hoje. O (ex-ministro da Saúde Eduardo) Pazuello jamais poderia ser um general com a grosseria que ele tem, com a formação, com a ignorância que ele tem. Um homem como aquele não pode chegar a general. Um homem que pensou em ir à CPI de farda para ser mais respeitado. Não é a farda que mostra caráter. É a formação, o interesse de defender a soberania nacional.
Elisa Martins – O Globo