domingo, novembro 24, 2024

União Brasil nasce gigante, mas perderá gordura e tem que definir rumo nacional

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O Tribunal Superior Eleitoral julga na noite desta terça-feira (8) o pedido de fusão entre PSL e DEM, o que resultará na União Brasil, sigla que nascerá como a maior da Câmara dos Deputados, disparada, mas já em iminente processo de esvaziamento.

Além de uma anunciada saída em bloco de bolsonaristas e de outros parlamentares, o novo partido ainda está em busca de um rumo na eleição presidencial, o que incluem variadas opções.

De uma inicial e difícil negociação com Sergio Moro (Podemos) a uma tentativa de federação com o MDB de Simone Tebet (difícil) ou com o PSDB de João Doria (improvável), passando até pelo lançamento da candidatura presidencial de Luciano Bivar —que não é pra valer, mas apenas para forçar uma melhor colocação da sigla em algumas das chapas à sucessão de Jair Bolsonaro (PL).

O julgamento no TSE é visto pelo mundo político apenas como protocolar para oficializar a fusão.

O PSL (55) e o DEM (26) reúnem 81 cadeiras na Câmara e ficarão bem à frente do segundo colocado, o oposicionista PT, que tem 53. O problema é que assim que a Justiça aprovar a criação da União Brasil, de 20 a 30 deputados bolsonaristas do PSL irão deixar a legenda, em especial para o PL, que filiou em seus quadros o presidente da República.

Bolsonaro se elegeu pelo então nanico PSL, mas rompeu e se desfiliou da sigla ainda em 2019, primeiro ano de seu governo.

“Eu talvez seja o primeiro deputado do Brasil a deixar o União Brasil rumo ao PL. Não vou esperar janela, já me filiarei nesta semana”, afirma Bibo Nunes (PSL-RS), citando a janela do troca-troca de março, mês em que por lei deputados federais podem migrar de legenda sem risco de perder o mandato por infidelidade.

Outro já de malas prontas para o PL é Junio Amaral (PSL-MG), segundo quem houve uma quebra de confiança dentro do atual partido em decorrência da disputa interna entre bolsonaristas e aliados de Bivar.

“Nós que ficamos do lado do presidente Bolsonaro fomos retaliados de toda a maneira, com processo disciplinar, como retirada de diretórios, não pudemos lançar candidatos ligados a nós [em 2020], fomos tolhidos da atividade partidária, então estremeceu a relação”, diz Amaral, ressaltando que a coerência indica que o grupo deve estar no mesmo partido do presidente. “Foi assim que ingressei na política e assim pretendo permanecer.”

A União Brasil perderá deputados também por outros motivos, como Kim Kataguiri (DEM-SP), que se filiará ao Podemos. “São duas motivações principais. Uma é o apoio ao Moro, porque o União não sabe para onde vai ainda, e a outra é a candidatura do Arthur do Val [Podemos] ao Governo de São Paulo, que a gente tentou com o União, mas eles optaram por apoiar o Rodrigo Garcia [PSDB]”, afirmou Kataguiri.

Com as saídas e algumas possíveis entradas, tanto políticos do DEM como do PSL estimam que a União Brasil chegará ao fim da janela do troca-troca partidário, em abril, com uma bancada entre 50 e 60 deputados, ou seja, similar à atual do PSL.

Apesar do provável esvaziamento, a União Brasil terá dois triunfos preciosos na eleição de outubro, a maior verba pública de campanha e o maior espaço na propaganda dos candidatos. Esses dois ativos são calculados, na maior parte, pelo tamanho que PSL e DEM saíram das urnas em 2018 e independem do troca-troca que ocorrerá no mês que vem.

Só do fundo eleitoral a União contará com quase R$ 800 milhões para distribuir aos seus candidatos.

Apesar dos cofres cheios e o poder sobre a maior fatia da propaganda eleitoral na TV, até agora o novo partido não tem clareza sobre que rumo irá tomar nas eleições presidenciais.

Seu pré-candidato, o ex-ministro da Saúde Henrique Mandetta (DEM), não conseguiu se viabilizar politicamente, pelo menos até o momento. Luciano Bivar, que preside o PSL e ocupará o mesmo cargo na nova sigla, ensaia lançar seu nome, mas só para aumentar o cacife da legenda.

“Se é para colocar um nome, não vejo por que não entrarmos também no debate, desde que exista um encontro de contas [a unificação em um candidato] lá na frente, principalmente pela aflição que a gente está vivendo em relação a essa polarização”, diz o deputado federal Bozzella (PSL-SP).

Aliado a Bivar, Bozzella defende a candidatura do ex-juiz Sergio Moro. “As pesquisas tem mostrado o Moro [mais bem posicionado na terceira via] e eu acho muito difícil alguém dentro desse campo ter um carta na manga que dê um cavalo de pau tão radicalmente para sair dos seus 1% para 15%, 20% em três, quatros meses”, afirma.

Paralelamente a essas especulações, Bivar tenta fechar uma federação —novidade dessa eleição, que não representa fusão, mas exige atuação conjunta das siglas pelos quatro anos seguintes— com o MDB de Tebet.

As conversas encontram menos resistência do que as com o PSDB de Doria. Mesmo assim, há dificuldade pelo prazo exíguo para que os pedidos de federação sejam apresentados ao TSE —até o fim deste mês— e por divergências entre União e MDB em alguns estados.

“Temos dificuldades em cinco ou seis estados, dificuldades grandes, vamos ver se conseguimos avançar, mesmo que eventualmente tenhamos que sacrificar um ou outro desses estados. Essas conversas ficaram de evoluir essa semana em Brasília”, disse o deputado Elmar Nascimento (DEM-BA),

Bivar teria reuniões presenciais, mas nesta segunda (7) disse a políticos aliados que seu teste de Covid deu positivo.

Mesmo entre os parlamentares que ficarão na União Brasil, há políticos que admitem apoio nos estados a Bolsonaro, mesmo que o palanque seja dividido com outros candidatos ao Palácio do Planalto.

“Minha linha é de direita, conservador, tenho o mesmo perfil de direita. Pessoalmente, eu trouxe ele [Bolsonaro] para Goiás, para todos os eventos em Goiás na última campanha [2018] fui eu quem trouxe, quando ele tinha 1% das pesquisas”, afirmou o deputado Delegado Waldir (PSL-GO), que pretende se lançar ao Senado na chapa à reeleição do governador Ronaldo Caiado (DEM).

“A tendência é o União Brasil fazer o que fez na eleição passada, quando o Caiado abriu o palanque para mais de um candidato”, afirmou Waldir, citando Bolsonaro, Moro, Doria e Tebet.

O PSL foi um partido nanico por cerca de 25 anos, desde a sua fundação, em 1994, até 2018, quando abrigou a surpreendente eleição de Bolsonaro para a presidência.

O DEM é uma das principais siglas da política brasileira, sendo oriunda da Arena, o partido de sustentação do regime militar. Teve seus tempos áureos nos anos 1980 e 1990, quando sob o nome de PFL (Partido da Frente Liberal) chegou a ter a maior bancada da Câmara e a presidir as duas Casas do Congresso, além de ter a vice-presidência da República.

Com a chegada do PT ao poder, em 2003, o partido trilhou o caminho da oposição e acabou entrando em declínio. Em 2007, na tentativa de se renovar, trocou o comando e mudou o nome para DEM. Em 2014, chegou ao fundo do poço, tendo eleito apenas 21 deputados federais.

 

Ranier Bragon/Folhapress

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