Pré-candidato do PDT à Presidência, Ciro Gomes tem buscado estratégias para atrair o apoio do eleitorado que rejeita o presidente Jair Bolsonaro (PL) e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), com o objetivo de ir ao segundo turno na eleição de outubro. Entre outros pontos, o pedetista tenta consolidar alianças com o PSD em estados-chave, como o Rio de Janeiro e Minas Gerais —Ciro se reuniu nesta sexta-feira (11) com o prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil, possível nome do partido de Gilberto Kassab ao governo mineiro.
A movimentação é uma tentativa de turbinar as intenções de voto no pedetista, que aparece empatado com o ex-juiz Sergio Moro (Podemos) em terceiro lugar, segundo pesquisas eleitorais recentes. No último Datafolha, divulgado em dezembro, Ciro tem 7%, contra 9% de Moro. Aliados de Ciro veem espaço para que o pedetista alcance 15% da preferência do eleitorado já em abril, em um cenário que considera uma desidratação do ex-ministro da Justiça de Bolsonaro e também votos capturados da parcela da população que manifesta rejeição tanto ao presidente quanto ao petista.
No primeiro caso, havia uma preocupação da equipe de Ciro com a entrada de Moro no jogo eleitoral, em especial após o resultado da pesquisa Datafolha de dezembro. O temor era que o pré-candidato do Podemos se consolidasse como a alternativa entre Lula e Bolsonaro e se isolasse no terceiro lugar. No entanto, levantamentos recentes indicam empate entre ambos.
É justamente na disputa pelos insatisfeitos com Lula e Bolsonaro que a campanha de Ciro vê espaço para crescimento. A conta trabalhada por aliados de Ciro é: com 25% das intenções de voto para Bolsonaro, haveria 75% de eleitores que não elegeriam o atual presidente. Desses, em torno de 40% declaram apoio ao petista. O foco da equipe do ex-ministro da Fazenda são os 35% que não votariam nem em Lula nem em Bolsonaro.
Diante desse cenário desenhado, pedetistas têm a expectativa de que a candidatura ganhe corpo com esse um terço de descontentes e com a captura de votos hoje dados a Moro e a outros nomes da chamada terceira via, o que seria suficiente para desbancar Bolsonaro e levar o pedetista ao segundo turno contra Lula.
A partir daí, os aliados de Ciro contam com a eventual migração de eleitores que só votariam em Lula por estarem insatisfeitos com o governo Bolsonaro. A mesma pesquisa Datafolha de dezembro, porém, indica que em um eventual segundo turno entre Lula e Ciro, o petista teria 56% dos votos, ante 26% do candidato do PDT.
Outro caminho explorado é o apoio do PSD em alguns palanques importantes para a candidatura do ex-governador do Ceará. No Rio de Janeiro, essa aliança saiu do papel no início do mês, ainda que não tenha sido definido o nome que disputará o governo do estado. O prefeito do Rio, Eduardo Paes (PSD), defende o ex-presidente da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) Felipe Santa Cruz como cabeça de chapa. O PDT quer o ex-prefeito de Niterói Rodrigo Neves.
Com mais cautela, Ciro negocia o mesmo apoio em Minas Gerais, um estado considerado mais sensível por ser base do atual nome do PSD à Presidência, o senador Rodrigo Pacheco. O objetivo de Ciro encontra ao menos dois obstáculos. Ainda que haja dúvidas de que Pacheco vá levar até o fim a candidatura, o partido de Kassab prioriza lançar um nome independente para a disputa presidencial —há conversas com o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB). O ex-governador do Espírito Santo Paulo Hartung também é tido como uma opção.
Além disso, na quarta-feira (9), durante filiação do vice-presidente da Câmara, Marcelo Ramos, ao PSD, Kassab fez um aceno a Lula e admitiu aliança com o petista já no primeiro turno. No encontro com Kalil, Ciro adotou tom respeitoso e lembrou que o PSD já tem um presidenciável. “Portanto eu não seria, por mais desejo que eu tenha, indelicado de constranger o Kalil, tendo ele e o partido dele uma candidatura”, disse.
“Apenas eu disse que como Reinaldo, o rei do Atlético, nosso jogador, eu tô na área, pedindo a bola, para ver se a gente ajuda o Brasil a mudar de caminho, porque não dá para a gente votar no Bolsonaro para contestar a conta e o desastre econômico e de corrupção do PT e do Lula, e agora votar no Lula para protestar contra o desastre que o Bolsonaro representa.”
Um sonho ainda mais distante do PDT seria conseguir um palanque em São Paulo, algo que depende de condicionantes como a filiação do ex-governador paulista Geraldo Alckmin ao PSD —cenário hoje improvável, considerando as conversas do ex-tucano com o PSB e a articulação para que ele seja vice de Lula.
Aliados dizem que, se conseguir convencer o partido de Kassab a compor como vice, Ciro “liquida a fatura” e ganha tração. A agenda de encontros regionais de Ciro passa por São Paulo, onde participa do CEO Conference Brasil 2022, realizado nos dias 22 e 23. O ex-presidente Lula recusou convite para comparecer ao evento, que, de acordo com o banco, terá a presença de Bolsonaro, Moro e do também presidenciável João Doria (PSDB), governador de São Paulo.
Em Minas Gerais, a equipe de Ciro aproveitou para turbinar a campanha com temas da “vida real”. O pré-candidato do PDT visitou uma ocupação indígena e defendeu, em uma rede social, “um grande programa de regularização fundiária, titulação da terra e de reforma e consolidação de moradia popular, cujo orçamento já está estudado”.
Como parte desse esforço de aproximação com temáticas de interesse do povo, o pedetista tem entrado em uma área cara ao partido que teve como uma de suas principais lideranças Leonel Brizola: trabalho. O pedetista busca reafirmar o compromisso com o trabalhador, com o discurso de que nenhum direito será retirado. Uma de suas propostas é uma nova regulação para o mercado de trabalho.
“Nenhum país do mundo prosperou introduzindo no mundo do trabalho insegurança jurídica e insegurança econômica como essa selvageria chamada de reforma trabalhista fez no Brasil”, afirmou o presidenciável em entrevista à rádio Super NotíciaFM, em Minas Gerais, na sexta-feira (11).
“Isso quer dizer o quê? Que devemos voltar ao passado, ao gesso de uma velha CLT [Consolidação das Leis do Trabalho], que prestou um grande serviço à classe trabalhadora, mas que não entendeu a revolução digital, as novas práticas produtivas, a economia do conhecimento? Não.”
Segundo ele, a diretriz será a proteção do trabalho. “Deixado solto, o capital destrói o trabalho”, disse, citando casos de terceirizados que ganham menos que funcionários contratados diretamente por empresas.
Danielle Brant / Folhapress