O presidente Jair Bolsonaro afirmou neste sábado (18) que o valor de mercado da Petrobras deve cair mais R$ 30 bilhões em razão da articulação, comandada por ele, para a abertura de CPI sobre a estatal.
Durante uma fala num culto evangélico em Manaus (AM), o presidente responsabilizou sócios minoritários pela queda de valor da empresa. Na última sexta-feira (17), a estatal perdeu R$ 27,3 bilhões de valor de mercado, segundo a plataforma de dados financeiros Economática, em razão da reação do governo ao novo reajuste dos combustíveis.
“Grande parte dos minoritários [são] empresas de fundo de pensão dos Estados Unidos que ganham em média R$ 6 bilhões por mês. Dinheiro de vocês que botam combustível nos carros. A Petrobras perdeu R$ 30 bilhões. Acredito que, na segunda-feira (18), com a CPI, vai perder outros 30”, disse Bolsonaro.
“Eles não pensam no Brasil. Virou Petrobras futebol clube para seu presidente, diretores, conselheiros e dito minoritários.”
A reação do governo sobre a estatal foi um dos componentes de um discurso de mais de uma hora para fiéis do Ministério Ressurreição que participavam do Ato de Unção Apostólica na capital do Amazonas.
“Vamos para cima da Petrobras”, disse Bolsonaro, para aplauso dos fiéis presentes.
As fortes reações aos reajustes nos preços da gasolina e do diesel acenderam um sinal de alerta entre acionistas minoritários da Petrobras. Eles temem um avanço do governo e de partidos do centrão sobre a estratégia e diretorias da estatal.
Representante dos minoritários no conselho de administração, o advogado Francisco Petros chegou a enviar uma carta aos ministérios de Minas e Energia e da Casa Civil para tentar abrir um espaço para negociações.
No texto, ele sugere congelamento de reajustes por 45 dias em troca de manutenção do sistema de governança da companhia, que foi reforçado no governo Michel Temer (MDB) para melhorar a blindagem da estatal contra ingerências políticas.
Bolsonaro tenta mudar o comando da estatal desde o fim de maio, quando indicou Caio Paes de Andrade para substituir José Mauro Coelho na presidência da companhia, mas o processo esbarra nas regras de governança.
Andrade só pode assumir após avaliação de seu nome em assembleia de acionistas, que só será convocada depois de análise dos currículos de dez nomes indicados pelo governo para renovar o conselho.
Após a convocação da assembleia, é necessário respeitar um prazo mínimo de 30 dias para a realização do encontro. O governo tenta forçar a renúncia de Coelho para agilizar a troca no comando, mas ainda não teve sucesso.
Minoritários temem o avanço de partidos do Centrão sobre a direção da empresa, que deve ser renovada com a chegada de Paes de Andrade. Um representante de investidores privados diz que a batalha agora não é mais pelos preços, mas pela diretoria.
Folha de S. Paulo