A deputada eleita Marina Silva (Rede) tem uma palavra para definir a não reação, por quase dois dias, do presidente Jair Bolsonaro (PL) ante sua derrota para Luiz Inácio Lula da Silva (PT): frouxo.
“Esse Bolsonaro é muito frouxo porque ele perdeu, ele não reconhece a derrota com 58 milhões de votos. É muito voto. Nem agradecer ele agradeceu, porque apesar dele, ele ainda teve 58 milhões de votos”, disse a ex-senadora e ex-ministra do governo Lula nesta terça (1º), em congresso da evangélica Igreja Batista de Água Branca, do pastor Ed René Kivitz. A fala foi antes do discurso do presidente em Brasília.
Marina fez um paralelo entre sua própria situação e a de Bolsonaro. Em 2014, ela teve 22 milhões de votos, em 2018, murchou para 1 milhão, atrás de políticos neófitos como Cabo Daciolo e João Amoêdo.
“Por que digo que ele é muito frouxo? Queria ver o que ele faria se tivesse feito 22 milhões de votos e depois 1 milhão.” Ela se disse, então, que é imensamente grata a Deus por todo e qualquer eleitor.
Marina associou a postura bolsonarista a uma carência de amor. “O que o líder quer é que alguém se mate por ele, que obstrua estradas por ele. Porque no fundo, no fundo, é uma pessoa frágil, carente.”
Para a deputada eleita, que se reconciliou com Lula neste ano, após anos de mágoa com o PT, o bolsonarismo forçou uma polarização “entre as forças do céu e do inferno”.
A esquerda precisa entender, diz, que ela não deve cair na mesma armadilha de ver o outro lado como inimigo. O contingente que escolheu Bolsonaro nas urnas merece ser acolhido. “Não podemos achar que 58 milhões de brasileiros, ah, descarta.”
Ex-presidente da Funarte e autor de “O Diálogo Possível”, Francisco Bosco também falou sobre o estrago de ver um divergente como nêmesis. Isso faz com que o outro se ressinta e polarize ainda mais, até porque ninguém gosta de ser caricaturado, afirma. Vale tanto para a esquerda quanto para a direita.
“A tendência do ressentimento é estabelecer a dinâmica da reciprocidade, e essa dinâmica não para de ser retroalimentada.”
Bosco diz que é um erro a esquerda achar que só ela faz parte do campo democrático, excluindo toda uma direita plural, que não pode ser reduzida a uma faceta mais extremista, desse jogo.
Anna Virginia Balloussier, Folhapress