Um dia após as invasões golpistas na Esplanada, peritos passaram a segunda-feira (9) analisando os danos provocados por vândalos no Palácio do Planalto, no STF (Supremo Tribunal Federal) e no Congresso. O prejuízo ainda deve levar dias para ser calculado.
Vidros quebrados, lixo e centenas de garrafas de água vazias espalhados pelo chão, alagamento, mobiliários avariados e virados de ponta-cabeça, documentos rasgados, obras de artes danificadas, fios arrancados, TVs quebradas, maquinário depredado e outras marcas da grande baderna contrastavam com o sumiço de diversos objetos históricos saqueados.
No Congresso, os vândalos fizeram estragos nas dependências tanto do Senado como da Câmara, onde os ataques se concentraram nas lideranças de PT, PSDB e MDB.
A liderança petista é citada por pessoas que fizeram a vistoria como o local mais danificado do Congresso. Os vândalos queimaram quadros do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), bandeiras do partido e destruíram fornos de micro-ondas, impressoras e computadores, além de portas e janelas de vidro.
Houve roubos inclusive de presentes de autoridades estrangeiras em visita ao Legislativo brasileiro. Eles estavam expostos em uma prateleira no Salão Verde, que foi destruída e saqueada.
Uma bola autografada pelo atacante da seleção brasileira Neymar está entre os itens roubados neste domingo. De acordo com técnicos da Câmara, o item estava em uma exposição alusiva à Copa do Mundo de 2022, no Qatar.
Trechos de carpete no Salão Verde foram furados, queimados ou danificados pela água. Importantes obras de arte da cultura brasileira foram avariadas. A obra “Bailarina”, de Victor Brecheret, foi descolada da base. O “Muro Escultórico”, de Athos Bulcão, foi perfurado na base.
O levantamento final dos danos no espaço físico do prédio principal da Câmara só será concluído quando a perícia policial e a limpeza forem finalizadas.
No Senado, o prejuízo já é inicialmente estimado entre R$ 3 milhões e R$ 4 milhões —só a troca e a reposição dos vidros deve custar mais de R$ 1 milhão. A diretora-geral da Casa, Ilana Trombka, afirmou que será preciso trocar todo o carpete do Salão Azul, que foi encharcado pelos vândalos.
Os invasores urinaram em uma tapeçaria de Burle Marx que estava exposta, danificaram um tinteiro de bronze da época do Império, um quadro de 1890 que retrata a assinatura da Constituição, e uma mesa do Palácio Monroe, onde funcionou a segunda sede do Senado, no Rio de Janeiro.
“A gente tem um quadro de 1890 que retrata a assinatura da Constituição. Eles se penduraram no quadro, fazendo com que a parte debaixo ficasse solta. É uma peça que tem valor incalculável”, disse Trombka.
A escultura “Painel Vermelho”, de Athos Bulcão, também sofreu avarias. Segundo servidores responsáveis pela área de preservação do Senado, 20 ml da tinta usada para restauração da obra custam em torno de R$ 800.
Os golpistas também danificaram cinco pinturas de ex-presidentes do Senado: duas de Renan Calheiros (MDB-AL), uma de Ramez Tebet (MDB-MS) —pai da ministra e senadora Simone Tebet (MDB-MS)— e outro de José Sarney (MDB-MA). Os quadros foram pintados pelo artista plástico Urbano Villela.
O grupo depredou a antessala do presidente do Senado, mas não conseguiu entrar no gabinete. Os vândalos só conseguiram entrar na área privativa do gabinete do senador José Serra (PSDB-SP), que fica perto do plenário.
O prédio do STF, o mais depredado pelos golpistas, passou por perícia externa e interna, inclusive com uso de drones. Os ataques se concentraram na sede, que ficou interditada. Segundo a instituição, os anexos 1 e 2 não foram alvos dos vândalos. Agora, a corte vai compilar os danos e calcular os prejuízos.
No STF, os golpistas depredaram a porta do armário do ministro Alexandre de Moraes. Uma foto e vídeos da porta viralizaram entre grupos bolsonaristas nas redes sociais, além de imagens de vandalismo e destruição de outros itens da corte, como um crucifixo, a cadeira da presidente do STF, Rosa Weber, assinada pelo designer Jorge Zalszupin, e a escultura “A Justiça”, feita por Alfredo Ceschiatti e que fica em frente ao tribunal.
A porta principal do Supremo foi completamente quebrada, o plenário teve cadeiras arrancadas e foi totalmente revirado. Também foram destruídos salas e escritórios que ficam no andar superior ao plenário, inclusive o Salão Nobre, que abrigava móveis centenários, obras de arte e presentes estrangeiros dados à corte.
Os gabinetes dos ministros, porém, não foram invadidos.
O Palácio do Planalto também passou por perícia e varredura, em especial porque o presidente Lula despachou do seu gabinete —que, por ser blindado, não foi depredado.
O ministro da Secretaria de Comunicação, Paulo Pimenta, afirmou que os vândalos levaram armas, discos rígidos de computador (HDs) e documentos. De acordo com ele, há sangue, urina e fezes, o que facilitaria a identificação dos criminosos.
A maior parte das janelas externas do Planalto foram quebradas, mangueiras de incêndio e extintores foram usados para alagar o local e a galeria com as fotos dos ex-presidentes da República foi arrancada da parede, rasgada e jogada no chão.
Gavetas da recepção foram reviradas, crachás para visitantes ficaram expostos e catracas, quebradas. Na parte externa, foram arremessados mesas, diversas cadeiras e um tablado usado em cerimônias oficiais.
Dentre as obras danificadas no Planalto, há um quadro de Di Cavalcanti rasgado a facadas, e um relógio do século 18 que pertenceu a D. João 6. Só o quadro é avaliado em R$ 8 milhões, afirma o Planalto.
Danielle Brant , João Gabriel , Ranier Bragon , José Marques , Marianna Holanda , Renato Machado e Thaísa Oliveira/Folhapress