Universidade celebra marco histórico para a luta e garantia de direitos ao adotar a medida de reparação social
Em 2023, a Universidade do Estado da Bahia (Uneb) celebra os 21 anos da aprovação do seu Sistema de Cotas, como a segunda universidade do país a estabelecer o marco histórico para a luta e a garantia de direitos ao adotar a medida de reparação social. Com a implementação das Cotas, muitos estudantes puderam ingressar em uma universidade pública e gratuita.
A decisão, que ocorreu em 2002, antecedeu em cerca de 10 anos a Lei de Cotas, Nº 12.711, e deu caminho a diversos avanços na gestão e no acompanhamento das políticas de reparação histórica na instituição, inclusive, com a implantação da Pró-Reitoria de Ações Afirmativas (Proaf) em 2014. A Uneb foi a primeira universidade no Brasil a criar uma pró-reitoria para o tema.
A reitora da Uneb, Adriana Marmori, afirma sentir orgulho pelo pioneirismo. Com isso, a decisão do conselho superior, presidido por uma mulher negra na época, professora Ivete Sacramento, foi uma ruptura de paradigmas com a democratização do acesso das pessoas negras, reparando a negação do direito à educação superior pública. “É importante ressaltar a união, o “aquilombamento”, de pesquisadores(as), docentes, técnico e estudantes negras(os), produzindo ciência em todas as áreas do conhecimento e sobre as relações étnico-raciais com os coletivos e movimentos negros na Bahia, traduzido em ações dentro e fora da academia”, pontua.
A estudante Thayana Victória, de Feira de Santana, que ingressou em 2018 no curso de medicina pelo sistema de cotas e se forma no próximo ano. “Eu acho a política de cotas de extrema importância, justamente, quando olhamos de 15 a 20 anos atrás para hoje o cenário das universidades. Hoje, já vemos pessoas negras, trans e demais minorias representativas. Se não estivermos dentro da universidade, não vamos pensar políticas para gente como a gente”, pontua.
Essa realidade é expandida por todo o estado da Bahia com os 26 campi. O campus V, localizado em Santo Antônio de Jesus, é onde Matheus de Moraes estudou letras com inglês, quando ingressou em 2008 pelas política de cotas. Ele agora é professor concursado na região do oeste baiano.
“Para mim, o sistema de cotas é uma ferramenta que surge e é de extrema importância porque nos coloca para competir com pessoas que tiveram um maior nível de educação do que tivemos. Antes, as universidades eram cheias de pessoas que vinham dos principais colégios particulares e cursinhos pré-vestivular”, pontua Matheus que foi o primeiro da sua família a entrar na universidade pública e único da sua turma.
História
Após a aprovação de 2022 com 40% das sobrevagas, a Uneb seguiu ampliando o escopo de ações afirmativas de acesso ao ensino superior com as cotas para indígenas, com 5%, em 2007, e, atendendo às demandas da sociedade civil organizada, mais 5% para quilombolas; ciganos; pessoas com deficiência, transtorno do espectro autista e altas habilidades; e travestis, homenstrans e mulherestrans.
“O sistema de Cotas caracteriza-se como étnico-racial, cultural e de condição de deficiência, possuindo dois marcadores: a renda familiar de até quatro salários mínimos; e a dependência administrativa da unidade escolar – escolarização em instituições públicas”, detalha a pró-reitora de ações afirmativas Dina Maria.
*Sob a supervisão da editora Meire Oliveira
A Tarde