O presidente Lula (PT) concluiu nesta quarta-feira (6) a primeira grande reforma ministerial do seu terceiro mandato, com um remanejamento interno para acomodar nomes indicados pelo centrão.
Entram no governo o líder do PP na Câmara, deputado André Fufuca (MA), e o deputado Silvio Costa Filho (Republicanos-PE), que vão ocupar os ministérios do Esporte e de Portos e Aeroportos, respectivamente.
A decisão foi comunicada por meio de nota, divulgada pela Presidência na noite desta quarta.
“A nomeação e posse serão realizadas no retorno do presidente Luiz Inácio Lula da Silva da reunião do G20. O ministro Márcio França assumirá a nova pasta das Micro e Pequenas Empresas”, diz o texto.
A mudança ocorre após mais de dois meses de negociação com integrantes da cúpula do Congresso. O principal objetivo é incluir os partidos do centrão no governo e, assim, aumentar a base de apoio a Lula no Parlamento.
PP e Republicanos já foram aliados de governos petistas no passado, mas estiveram com Jair Bolsonaro (PL) durante a gestão do ex-presidente. Alas do Republicanos e do PP continuam, inclusive, muito próximas ao bolsonarismo e foram contrárias ao embarque no governo.
Fufuca vai substituir a atual ministra dos Esportes, Ana Moser, ex-atleta olímpica, militante da área esportiva e apoiadora de primeira hora da candidatura de Lula. Das três demissões de Lula até o momento, duas foram mulheres: em 14 de julho, ele trocou Daniela Carneiro por Celso Sabino, no Turismo.
O presidente recebeu Ana Moser em seu gabinete na noite de terça (5). Ela voltou a se encontrar com o mandatário nesta quarta-feira, poucas horas antes do anúncio da reforma, no Palácio da Alvorada.
Horas depois, foi a vez de Fufuca e Silvinho chegarem para uma reunião com Lula na residência oficial. Eles chegaram ao local no mesmo carro que o responsável pela articulação política do governo, o ministro Alexandre Padilha (Relações Institucionais).
Já Silvio Costa Filho ocupará o lugar de Márcio França (PSB), que agora será o titular do novo ministério da Pequena e Média Empresa. A pasta já vai trocar de novo antes mesmo de ser criado, para agradar França e seus aliados.
Deve se chamar Ministério do Empreendedorismo, Inovação e Economia Criativa e vai abarcar micro e pequenas empresas, trabalho informal e artesanato.
A criação do ministério da Pequena e Média Empresa foi anunciada por Lula durante a sua transmissão semanal na internet, o Conversa com o Presidente.
“Nós vamos criar, eu estou propondo a criação do ministério da pequena e média empresa, das cooperativas e dos empreendedores individuais. Para que tenha um ministério específico para cuidar dessa gente que precisa de crédito e de oportunidade”, afirmou o mandatário na ocasião.
França resistiu em aceitar o novo cargo, por considerá-lo esvaziado, menor e sem recursos próprios para implementar políticas públicas. Além disso, aliados do ministro avaliam que a nova pasta representa uma parte destacada do MDIC (Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços) que já estava com o PSB, sob o comando do vice-presidente Geraldo Alckmin.
PP e PSB barganharam com o governo para aumentarem o escopo das pastas que vão ocupar.
O partido de Fufuca buscou turbinar o Ministério do Esporte, com secretarias de temas ligados a empreendedorismo e assistência social. Já o PSB apresentou ao Planalto uma proposta para deixar a sua pasta mais robusta, com a ida da ABDI (Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial) para o ministério e a criação de uma diretoria com microcrédito do BNDES (Banco Nacional Desenvolvimento Econômico e Social).
As trocas foram arrastadas e envolveram idas e vindas nas negociações, pressão por ministérios com gordos orçamentos e conversas fora da agenda entre Lula e o principal interlocutor do centrão, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL).
Na mais recente, na noite de quarta-feira (16), o mandatário visitou de maneira escondida Lira, na residência oficial da Câmara dos Deputados.
Além dos encontros, Lula passou a dar sinais de aproximação e afagos a Lira, como no lançamento do Novo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), quando disse que precisava mais do presidente da Câmara do que Lira precisava dele.
O chefe do executivo manteve estilo de trocas nas pastas de 2003, colocando negociadores do governo em situações de saia justa com partidos. As semanas que antecederam a oficialização da troca foram marcadas por especulações.
Os nomes de Fufuca e Silvio Costa Filho, por exemplo, já tinham sido confirmados há quase um mês pelo ministro Alexandre Padilha (Relações Institucionais), responsável pela articulação política do governo.
O governo busca com a reforma ampliar a sua base de apoio no Congresso para aprovar propostas de seu interesse, em particular da agenda econômica do ministro Fernando Haddad (Fazenda).
Lula já havia promovido duas outras trocas isoladas em seu governo. Após pressão da União Brasil, demitiu Daniela Carneiro e a substituiu pelo deputado federal Celso Sabino (União Brasil-PA), também aliado de Lira.
A legenda pedia o ministério argumentando que não se sentia contemplada com Daniela, que seria uma indicação pessoal de Lula. A ex-ministra está em processo de desfiliação da União Brasil.
O outro ministro demitido foi o então chefe do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), general Gonçalves Dias. Amigo de longa data de Lula, o militar deixou o governo após a divulgação de imagens do sistema de segurança do Palácio do Planalto que mostrou a sua atuação e de subordinados durante o ato golpista de 8 de janeiro.
Julia Chaib/Marianna Holanda/Renato Machado/Thiago Resende/Folhapress