Alvo da Polícia Federal nesta segunda-feira (29), o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos) já esteve na mira de outras investigações sobre suspeitas de ser articulador de esquema de divulgação de notícias falsas e de desviar salário de assessores em seu gabinete, na Câmara Municipal do Rio de Janeiro.
Filho do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), Carlos foi alvo de mandados de busca e apreensão no âmbito da operação que investiga monitoramentos ilegal da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) durante a gestão do ex-mandatário.
O vereador é suspeito de ter recebido informações produzidas da agência, que atuou, segundo investigadores, de forma paralela para atender pedidos da família.
A reportagem fez contato com o advogado do parlamentar, mas ainda não teve nenhum retorno.
Carlos está em seu sexto mandato na Câmara Municipal do Rio. Ele se elegeu pela primeira vez como vereador em 2000, aos 17 anos —quando tomou posse, em janeiro de 2001, tinha acabado de completar 18 anos, idade mínima para o cargo.
Na época, disputou a vaga de vereador contra a própria mãe, Rogéria Bolsonaro, a pedido do pai. Jair Bolsonaro e a ex-mulher estavam em processo de separação. O ex-presidente não queria que ela se reelegesse e decidiu lançar o filho no lugar.
Carlos e Bolsonaro têm uma relação próxima e, durante a gestão do ex-presidente, era comum que o vereador estivesse na sede do governo federal atuando como um conselheiro extraoficial do pai.
É o filho “02”, como é conhecido, quem administra os perfis do pai nas redes sociais. Carlos também foi o coordenador da campanha virtual do líder bolsonarista em 2018, quando se elegeu à Presidência, e em 2022.
Foi justamente sua atuação nas redes que o fez entrar na mira da PF. Carlos é alvo de dois inquéritos no STF (Superior Tribunal Federal): o das fake news e o das milícias digitais. O vereador foi apontado como o articulador do chamado Gabinete do Ódio, instalado no Palácio do Planalto para atacar adversários políticos e disseminar mentiras e informações falsas.
Os dois inquéritos são relatados pelo ministro Alexandre de Moraes, alvo frequente de ataques bolsonaristas. O magistrado foi quem autorizou a ação da PF desta segunda contra Carlos.
Além disso, o vereador também é investigado em um inquérito do Ministério Público do Rio que apura uma suposta prática de rachadinha em seu gabinete na Câmara Municipal. Segundo a promotoria, Carlos teria recebido cerca de R$ 91 mil em depósitos sem origem, enquanto o chefe de seu gabinete, Jorge Luiz Fernandes, recebeu mais de R$ 2 milhões em repasses feitos por outros seis servidores do vereador.
Fernandes também foi alvo de busca e apreensão pela PF nesta segunda-feira. Braço direito de Carlos, o chefe de gabinete também é investigado no inquérito dos monitoramentos ilegais da Abin.
Com a apreensão dos celulares de Carlos e de seus assessores —além do chefe de gabinete, também foi alvo da operação a assessora Luciana Paula Garcia—, a expectativa agora é que as demais investigações contra o vereador também avancem. A depender do que for encontrado no material apreendido, a Polícia Federal poderá compartilhar as informações com os demais órgãos interessados.
COORDENAÇÃO POLÍTICA
A operação desta segunda-feira acontece menos de uma semana após o deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ) ser alvo da PF no mesmo inquérito sobre a atuação paralela da Abin.
O parlamentar é homem de confiança de Bolsonaro e foi indicado por ele para ser o pré-candidato bolsonarista na disputa à prefeitura do Rio. O coordenador da campanha de Ramagem é Carlos, que nutre uma amizade com o deputado.
Carlos e Ramagem se aproximaram durante a eleição de 2018. Ramagem, que é policial federal, foi chefe da segurança de Bolsonaro depois do então candidato levar uma facada em Juiz de Fora (MG).
Os dois ficaram ainda mais amigos durante o período em que Ramagem atuou como assessor especial da Presidência, durante os primeiros meses do governo Bolsonaro.
Após a operação contra o deputado, Carlos usou as redes sociais do pai para defender o aliado. Para minar a pré-candidatura de Ramagem, a estratégia é colocar o parlamentar como vítima de uma perseguição por parte do STF e do governo Lula (PT). A mesma narrativa já está sendo utilizada por demais bolsonaristas para defender Carlos.
O vereador também se prepara para sua campanha de reeleição à Câmara Municipal. Atualmente no Republicanos, partido que foi da base do governo de seu pai, Carlos está em vias de se filiar ao PL. Isso deve acontecer depois do Carnaval. O filho do presidente deve assumir o comando municipal da legenda, cargo ocupado hoje pelo vice-prefeito do Rio, Nilton Caldeira.
Camila Zarur/Folhapress