sexta-feira, outubro 4, 2024

Artistas de esquerda e hashtags bolsonaristas duelam por jovens sem título de eleitor

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A reta final para emissão do título de eleitor tem movimentado as redes sociais de direita e esquerda na tentativa de convencer jovens que ainda não tiraram o documento a votar.

O prazo termina no dia 4 de maio e, como mostrou a Folha, até o final de março pouco mais de 1 milhão de adolescentes de 16 e 17 anos haviam emitido o título, o que corresponde a 17,1% dessa população no país.

Nessa faixa etária, o voto é facultativo. O cadastramento pode ser feito por quem for completar 16 anos até a data do primeiro turno, em 2 de outubro.

No PT, a movimentação para conscientizar os jovens sobre a participação política e incentivar a emissão do título começou em dezembro, com o lançamento da campanha “Meu Primeiro Voto”, com ações de conscientização em escolas, universidades e outros locais públicos.

Em março, em meio à campanha de alistamento eleitoral promovida pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral), a cantora Anitta tuitou que só tiraria foto com fãs maiores de 16 anos se eles mostrassem uma foto do título de eleitor.

A postagem teve mais de 250 mil curtidas, 5.800 comentários e 16,8 mil retuítes.

Anitta é uma das vozes críticas ao governo de Jair Bolsonaro (PL) e já discutiu na rede social com o presidente e seus apoiadores, como o ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles. No último sábado (16), ela bloqueou o presidente no Twitter.

Outras mensagens da cantora incentivando o voto jovem também viralizaram. Uma delas foi compartilhada pelo ator hollywoodiano Mark Ruffalo, que destacou que os americanos só conseguiram derrotar Donald Trump com o apoio dos jovens.

A onda de incentivo cresceu ainda mais no final do mês, quando manifestações políticas feitas pelas cantoras Pabllo Vittar e Marina no festival Lollapalooza foram enquadradas pelo ministro do TSE, Raul Araújo, como propaganda eleitoral antecipada.

A decisão motivou uma campanha contra a censura e de incentivo à participação política e acabou revogada dias depois, após o PL, partido do presidente, desistir da representação contra as artistas.

Para tentar atrair o voto dos jovens, o PL lançou o movimento “Filia Brasil”, com o objetivo de aumentar o eleitorado do partido e difundir bandeiras conservadoras.

A cientista política Tathiana Chicarino, professora na Fesp-SP (Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo), destaca que Bolsonaro não tem mais o mesmo apelo que tinha em 2018, quando havia um grande movimento da juventude de direita que veio na esteira das jornadas de junho 2013 e do impeachment de Dilma Rousseff (PT).

“Se essa juventude de direita lá nos anos de 2017, 2018 tinha um apelo maior na política no sentido de enfrentar o que está aí, ser contra o que está aí, hoje esse sentimento é muito menor. Não estou dizendo que ele é inexistente, mas ele é muito reduzido”, afirma.

“Esse contexto está muito diferente, mas não quer dizer que o Bolsonaro perdeu completamente o apelo com a juventude. Isso ainda pode ser construído nas redes, pela fragmentação que as próprias redes têm”, completa.

Segundo levantamento da Diretoria de Análise de Políticas Públicas da Fundação Getúlio Vargas (Daap/FGV), entre o dia 1º de março e 6 de abril foram publicados 287,7 mil tuítes com hashtags incentivando a participação de adolescentes nas eleições.

Os marcadores bolsonaristas predominam. Enquanto a hashtag #lulapalooza, em referência à manifestação de Pabllo Vittar no festival em São Paulo, foi usada 2.752 vezes, o marcador #soujovemsoubolsonaro22 — usado por bolsonaristas para compartilhar fotos de adolescentes que tiraram o título para ajudar a reeleger o presidente— apareceu 146.948 vezes.

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Como não foi utilizada uma metodologia de detecção de bots —os chamados perfis robotizados— os pesquisadores ponderam que não é possível dizer que todas as mensagens foram compartilhadas por usuários reais.

Em Palmas (TO), a estudante de escola pública Giovanna Marasca, 16, é evangélica e diz que tirou o título eleitoral há duas semanas, mas que havia tomado a decisão já em 2018 quando viu Bolsonaro defendendo “a família e a liberdade, com unhas e dentes”, o que despertou nela o que chama de patriotismo.

“Decidi tirar meu título eleitoral para votar nos candidatos que defendem a pauta de Deus, pátria, família e a liberdade”, disse ela, que defende que os jovens participem da eleição.

“Quanto mais políticos e celebridades apoiarem, melhor, mas antes temos que saber votar em candidatos limpos e honestos, senão minha geração pode errar feio.”

Cientistas políticos ouvidos pela Folha destacam que, mesmo com o movimento feito nas redes sociais bolsonaristas para tentar atrair o eleitorado jovem, os dados existentes até então apontam que a maior parcela desse público se identifica com a esquerda.

De acordo com a pesquisa Datafolha de março, Lula alcançava 51% das intenções de voto entre eleitores de 16 a 24 anos, enquanto Bolsonaro era preferido por 22%. No eleitorado em geral, Lula registra 46% das intenções de voto e Bolsonaro, 26%.

Outro dado da pesquisa é que a rejeição ao presidente nessa fatia do eleitorado é o dobro da do petista. Enquanto 62% dos jovens dizem que não votariam em Bolsonaro de jeito nenhum, Lula é rejeitado por 30% deles. No quadro geral, o chefe do Executivo é rejeitado por 55% e Lula por 37%.

Para o cientista político e professor da FGV Eduardo Grin, o jovem já não é lulista, como em 2002, quando o petista foi eleito pela primeira vez, mas é majoritariamente anti-Bolsonaro.

“O eleitor mediano do Bolsonaro é o homem de classe média alta, com escolaridade e com alta renda”, diz, destacando que políticas adotadas ao longo da gestão do presidente na área da educação e meio ambiente prejudicam a imagem dele entre a maior parte dos adolescentes.

Em São Paulo, Antônio Vlahos da Silva, 16, estudante da rede particular, diz que tirou o título há dois meses pela internet por acreditar que a voz de todos deve estar incluída na sociedade.

Insatisfeito com o governo Bolsonaro, Antônio afirma que pretende votar no ex-presidente Lula, por ver nele um candidato capaz de derrotar o atual mandatário.

Leonardo Avritze, que é professor de ciência política da UFMG, coordenador do Instituto da democracia, afirma que a agenda mais conservadora tende a ser rejeitada por essa parcela de eleitores nas capitais, mas que ainda não há clareza sobre o perfil desse público a nível nacional.

“O Brasil é um país muito mais diverso, mas a juventude de cidades como Rio, São Paulo, Belo Horizonte e Brasília parece estar se identificando com agendas mais progressistas.”

A emissão do título de eleitor pode ser feita até o dia 4 de maio de forma online pela página TítuloNet do TSE ou presencial, no cartório eleitoral mais próximo. Para isso, basta apresentar a documentação obrigatória. Não é necessário autorização de responsáveis legais para solicitar o documento.

 

Géssica Brandino/Folhapress

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