segunda-feira, outubro 7, 2024

Bolsonaro diz rejeitar anistia pós-mandato e admite imoralidade como deputado

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O presidente Jair Bolsonaro (PL) disse nesta segunda-feira (8) não ter interesse em nenhuma forma de anistia ou imunidade após o final de seu mandato.

Em entrevista ao podcast Flow, ele também admitiu “imoralidade” quando era deputado federal e recebeu auxílio-moradia da Câmara apesar de ter apartamento funcional.

A entrevista, que durou 5h20, chegou a mais de meio milhão de acessos.

“Não estou interessado nisso [PEC da anistia], vão falar que eu estou pedindo arrego, ‘peidou na farofa’. Não quero essa imunidade”, disse o mandatário ao ser questionado sobre uma movimentação no mundo político para emplacar uma PEC (Proposta de Emenda à Constituição) que desse imunidade a ex-presidentes, garantindo-lhes um cargo público vitalício, como de senador.

Na mesma entrevista, Bolsonaro também admitiu ter cometido uma “imoralidade” por ter recebido no passado auxílio-moradia da Câmara dos Deputados mesmo tendo imóvel próprio em Brasília. Ele também disse que falou “merda” à Folha na época, quando disse que utilizava o dinheiro do benefício para “comer gente”.

No podcast desta segunda, Bolsonaro foi novamente questionado sobre o tema e disse que o recebimento do auxílio mesmo tendo imóvel em Brasília “entra na imoralidade”, embora não seja ilegal.

“Recebi auxílio-moradia da Câmara, sim. A legislação… Eu tenho um apartamento no Sudoeste [região do Plano Piloto, em Brasília] de 75 m², um apartamento da Câmara são quatro vezes isso, 300 m². O apartamento era meu, comprei, paguei e recebi o auxílio-moradia, sim. Não é ilegal, pode ser imoral. Mas eu vivia do meu salário, tinha outras despesas que… Agora, eu, por exemplo não pagaria condomínio do apartamento da Câmara. Lá no meu, pagava condomínio. Concordo contigo, entra na imoralidade”, declarou.

Depois, admitiu que “aloprou” com sua resposta sobre o que fazia com os recursos e que sua esposa, Michelle Bolsonaro, deu-lhe um “esporro”.

“Lógico que eu falei merda, porra. Falei que usava o dinheiro para fazer um negócio aí [“comer gente”]. Daí a negada falou pra mim ‘porra, se fosse o contrário, para namorar um homem não tinha problema’. Eu não fazia nada daquilo. Cheguei em casa, minha mulher [estava com] um olho, ela que me comeu aquele dia com olhos, esporro, mijada. ‘Como é que você fala um negócio desses? Como é que eu fico?’ Ela tem razão, aloprei.”

O apartamento em nome de Bolsonaro foi comprado no fim dos anos 1990, quando ele já recebia o auxílio-moradia, mas ficou pronto no início de 2000.

O auxílio-moradia é pago a deputados que não ocupam apartamentos funcionais no DF.

​Até janeiro de 2018, quando o caso foi revelado, Jair Bolsonaro tinha recebido o benefício da Câmara ininterruptamente desde outubro de 1995. Já Eduardo havia recebido desde fevereiro de 2015, quando tomou posse como deputado pela primeira vez.

Ao todo, pai e filho embolsaram até dezembro de 2017 o total de R$ 730 mil, já descontado Imposto de Renda.

Eles optaram por receber o auxílio em espécie, uma modalidade que não exigia apresentação de qualquer recibo sobre gastos com moradia.

Em 2018, a Folha mostrou que o então presidenciável e um de seus filhos, o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), recebiam dos cofres públicos R$ 6.167 do benefício mesmo o mandatário sendo dono de um apartamento na capital.

Naquele ano, a Folha também revelou que Bolsonaro, à época deputado federal, empregava em seu gabinete uma funcionária fantasma. O jornal revelou que a então assessora parlamentar Walderice Santos da Conceição trabalhava em um comércio de açaí na mesma rua onde fica a casa de veraneio do presidente na pequena Vila Histórica de Mambucaba, em Angra dos Reis (RJ).

Questionado numa visita da Folha a Mambucaba sobre o recebimento do auxílio-moradia, Bolsonaro respondeu: “Como eu estava solteiro naquela época, esse dinheiro do auxílio-moradia eu usava para comer gente. Tá satisfeita agora?”.

Durante a entrevista ao podcast, Bolsonaro também repetiu discurso de questionamento das urnas eletrônicas e do sistema eleitoral. Também criticou inquéritos abertos pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal).

O presidente disse que é o ministro e a “turma dele” quem decide o que é fake news.

O chefe do Executivo também voltou a dizer que o ministro quebrou sigilo de seu ajudante de ordens, Mauro César Barbosa Cid, porque queria acesso a mensagens trocadas entre os dois. “Para me botar como refém. Só que ‘sifu’, não tem nada lá. Não dou mole”, disse.

O ajudante de ordens foi indiciado no inquérito que apura vazamento de dados de uma investigação do TSE a respeito de um ataque hacker às urnas, divulgado por Bolsonaro em uma entrevista no ano passado.

Em outro momento, sem citar Moraes, o chefe do Executivo disse que é “frouxo” ministro que se ofende com faixas em manifestações que pedem a volta do Ato Institucional nº5, o mais violento dos atos da ditadura militar, que deu ao presidente da República o poder de fechar o Congresso, cassar mandatos e suspender direitos políticos.

” ‘Para de fazer papel de ridículo, não existe AI-5’. Agora, um ministro do Supremo se vê ofendido com AI-5, esse ministro é um frouxo. Não existe AI-5, tá com medo do quê?”, criticou, sem citar diretamente Moraes.

O ministro abriu investigação para apurar atos antidemocráticos em 2020, com a participação de Bolsonaro e seus apoiadores, com faixas que pediam a volta da ditadura militar e exaltavam o AI-5.

Bolsonaro, no podcast, também repetiu a fórmula negacionista quanto ao combate à Covid-19 e jogou dúvida sobre vacinação.

“Vírus pegou todo mundo praticamente. O que tinha comorbidade, que era idoso, faltava pouco lamentavelmente para nos deixar e nos deixaram”, disse.

 

Marianna Holanda/Folhapress

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